A coordenadora do Bloco explicou que, se medida do Governo correr bem, o cabaz básico que custa agora 226 euros, e que é apenas uma parte das compras necessárias a cada mês, desce 8 euros, passando a custar mais 26€, quase mais 12%, do que há um ano.
“Ou seja, pensões e salários, com atualizações que não chegam a um terço disto, continuam a perder e não é pouco. E isto se correr bem”, frisou.
Mas, se a medida correr mal, e, “infelizmente, a experiência diz-nos que tem tudo para correr mal”, estamos perante “uma promoção aos supermercados paga com 410 milhões de euros dos contribuintes, um número publicitário que fica caro ao erário público”. Isto ao mesmo tempo que “as pensões e os salários estão cada vez mais curtos”.
“Em Espanha, a descida do IVA foi comida pelos preços em 15 dias. E convenhamos que 6% de IVA não explicam nem compensam o assalto de ter a cebola 80% mais cara do que há um ano, o arroz 70% mais caro do que há um ano”, detalhou Catarina.
Sobre o argumento a ser utilizado pelo Governo no sentido de que será o apoio aos produtores portugueses a fazer a diferença, a dirigente bloquista clarificou: “ora ainda bem que há apoio, que bem precisam, andaram a ser explorados pelos grandes hipermercados durante todos estes anos. Mas nem são os produtores que estão a ganhar com a inédita inflação alimentar em Portugal, nem as prateleiras dos supermercados dependem exclusivamente de produtos nacionais”.
Segundo Catarina, “não há volta a dar: esta inflação não se explica sem olhar para os lucros da grande distribuição”.
E é exatamente por isso que o Bloco defende que é preciso controlar preços e margens, por forma a “garantir que esta pequeníssima descida de IVA chega aos bolsos de quem precisa”.
“A grande distribuição, já sabemos, diz que controlo de preços ou margens é impossível. Até ameaçam com prateleiras vazias. É ficção e pura chantagem. E o Governo sabe: pôs teto no preço do gás, controlou preço de máscaras e outros na pandemia. O controlo de preços e margens funciona, haja vontade política”, vincou a coordenadora do Bloco.
Catarina recordou que o executivo socialista desdiz agora tudo o que dizia até há poucas semanas, garantindo que tudo correrá bem porque tem um “acordo” e há “boa-fé”.
“Boa-fé do setor que acumula multas da autoridade da concorrência por práticas de abuso contra os consumidores. Boa-fé do setor onde não se pode falar de responsabilidade social sem se corar de vergonha”, apontou a dirigente bloquista.
Este foi, aliás, “o setor que lucrou com a pandemia, lucrou com a guerra, lucrou com cada desgraça do povo”.
“Na grande distribuição os patrões ganham milhões. Cláudia Azevedo aumentou a sua retribuição já em plena crise para 1,6 milhões. Soares dos Santos 3,7 milhões num ano. Com toda a certeza com o mérito de serem filhos de seus pais. O setor onde os trabalhadores teriam de viver duas vidas de trabalho inteiras e mesmo assim não conseguiria ganhar o que o patrão ganha num ano. O setor que continuou a somar milhões de lucros quando a população teve de cortar na alimentação”, acrescentou Catarina.
A pergunta que a coordenadora do Bloco deixou ao Governo é simples: a resposta do executivo passa por “manter o abuso nos preços e fazer um pequeniníssimo desconto no IVA durante seis meses?”
E por “confiar na ‘boa-fé’ daqueles que ganham lucros milionários com esse abuso enquanto o país empobrece?”
“Na verdade, este acordo é exatamente o que parece: um acordo para noticiário ver, que, tal como acontece com o acordo de rendimentos com os patrões, vai redundar apenas e só numa borla fiscal aos grandes grupos económicos”, rematou Catarina.