Santarém

Bruno Góis: "Queremos viver e trabalhar na nossa terra"

10 de maio 2025 - 12:52

Em entrevista ao Esquerda.net, Bruno Góis, cabeça-de-lista às eleições legislativas pelo distrito de Santarém, fala sobre a defesa de quem trabalha por turnos como bandeira para a representação dos trabalhadores da indústria do distrito.

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Bruno Góis
Bruno Góis. Fotografia de Diogo Gomes.

Esta quarta-feira estiveste na concentração dos trabalhadores da Sumol+Compal, num setor que há dez anos perde poder de compra. O que é que isto revela sobre a situação do trabalho neste momento no distrito de Santarém? 

O setor agroalimentar é um setor muito importante de trabalho no nosso distrito e na nossa economia. Estes trabalhadores estão há mais de uma década a perder o poder de compra, começaram, muitos deles, a ganhar mais de 300€ do que o salário mínimo e hoje em dia foram engolidos pelo salário mínimo. Ainda bem que o salário mínimo aumentou, mas não haver esta contratação coletiva e revisão salarial faz com que tudo vá aumentando, mas estes trabalhadores estão a empobrecer. O preço das casas, o preço da alimentação, o custo de vida sobe, também sobe a conta bancária dos donos da Sumol+Compal. E por isso é que o Bloco hoje esteve aqui a prestar solidariedade à luta destes trabalhadores. 

A indústria que há aqui no distrito vive muito do trabalho por turnos, cuja defesa também é uma bandeira do Bloco para estas eleições. Como é que podemos garantir que os trabalhadores destes distritos têm mais condições nessa área? 

O trabalho por turnos e o trabalho noturno é muito desgastante. Obriga os trabalhadores a fazerem grandes sacrifícios, prejudica a sua saúde. Principalmente quando não há regras contratadas coletivamente para terem as folgas bem organizadas, para terem fins-de-semana em que estão com a sua família e com os seus amigos, em que têm um período de descanso adequado. Isso prejudica muito a vida destes trabalhadores, que depois nem sequer são compensados ao nível salarial. O Bloco propõe que haja uma melhor regulação destas folgas, que estes trabalhadores tenham mais dias de férias e que se possam reformar mais cedo, porque a sua vida de trabalho é muito mais intensa e muito mais desgastante. E que haja uma valorização pelo menos de 30% dos salários para quem faz trabalho por turnos. Isto é importante no distrito de Santarém para fixar população, para que o trabalho seja bem remunerado e de qualidade, para que as jovens e os jovens não continuem a abandonar este distrito. É um distrito muito envelhecido, e se tivermos mais trabalho com qualidade, as pessoas vão conseguir ficar cá.

Bruno Góis na concentração dos trabalhadores da Sumol Compal
Fotografia de Diogo Gomes.

É um distrito que tem oscilações da força de trabalho devido ao envelhecimento. Em que outras áreas é que podemos reforçar a qualidade de vida no distrito para garantir que as pessoas que ficam cá e que trabalham cá têm uma boa vida?

As pessoas vão ficar neste distrito ou vão regressar se tiverem trabalho e casa. Nós, a nível nacional, estamos a fazer esta luta para pôr tetos às rendas. Já vamos vendo que neste distrito há T1 a 750€ e 800€. Os preços têm vindo a subir, os T2 já estão em preços elevadíssimos. A renda é mais elevada do que o salário médio no distrito e isso é inaceitável. Assim as pessoas não conseguem viver aqui. Por isso, a proposta do Bloco de por tetos às rendas é fundamental também para fixar a população e, ao mesmo tempo, temos um problema mais específico desta região de transição entre o litoral e o interior. É o problema do abandono dos centros históricos das nossas vilas e cidades, onde existem muitas casas degradadas, às vezes há ruas inteiras de casas abandonadas. Nós queremos que exista um plano nacional de investimento para a reabilitação destas cidades e vilas, para que não existam casas sem gente e gente sem casa. É assim que nós vamos conseguir fixar gente no distrito. 

Falas aí da qualificação dos centros das vilas históricas e das aldeias. Isso requer também uma ligação de transportes públicos por todo o distrito, não?

O nosso distrito tem um bom exemplo de transportes públicos, que é o caso de Torres Novas, onde os transportes urbanos torrejanos são gratuitos. Foi uma proposta avançada pelo Bloco de Esquerda e fez caminho na luta social, e o município de Torres Novas conseguiu ter este transporte público gratuito. Era um bom exemplo para alargar ao resto do distrito. Nós fazemos uma luta também pelo investimento na ferrovia. Existe uma linha de caminhos de ferro que vai do concelho do Cartaxo a Vendas Novas. Essa linha está ativa mas só para mercadorias e podia servir a passageiros. Nós defendemos que volte a servir as populações de Salvaterra, de Coruche e do Cartaxo para a mobilidade da população. As estações estão lá, a linha de caminhos de ferro está lá, é só deixar de estar abandonada. Seria um grande progresso para o nosso distrito. 

Há outras mudanças estruturais a nível de infraestrutura de transportes que podiam ser feitas?

Sim. Temos um problema que não tem sentido nenhum. Há quase 20 anos que está prometido para o distrito de Santarém a conclusão do IC3 no nosso distrito. O IC3 vem de Coimbra, vai para o distrito de Setúbal e é interrompido no nosso distrito. Fazia muita falta para a margem sul ter mais desenvolvimento. Há indústrias e empresas de logística que não se instalam em alguns concelhos na parte sul do distrito de Santarém porque não têm estrada adequada em que os camiões possam circular. E esses camiões estão atualmente a atrofiar o trânsito pelas estradas nacionais nas nossas aldeias, vilas e cidades. Por isso essa infraestrutura é fundamental. O Bloco conseguiu aprovar no último Orçamento do Estado a proposta para finalmente ser concluído o IC3 e ser feita uma nova ponte sobre o Tejo, vamos continuar a bater-nos por isso. É para isso também que serve um deputado do Bloco de Esquerda eleito pelo distrito de Santarém.

Concentração Sumol+Compal
Fotografia de Diogo Gomes.

Que visão de futuro tem o Bloco de Esquerda para a economia de Santarém, para que não caia cada vez mais vítima do que tem acontecido no resto do país, que é a monocultura do turismo? Onde é que nós investimos? Como é que levamos o distrito para a frente? 

Criar condições de respeito para estes trabalhadores do setor agroalimentar e do setor automóvel, condições para que estes trabalhadores recebam salários dignos e tenham boas condições de trabalho, vai fortalecer a economia do nosso distrito. Porque estas empresas às vezes já estão a ter dificuldades de recrutamento. O mesmo se está a passar na CP. Hoje a CP está em greve e uma das coisas que dizem os trabalhadores é que a própria empresa já está a ter dificuldades de recrutar porque os salários e as condições de trabalho não são dignos. Portanto, para fortalecer a nossa economia é preciso dar condições aos trabalhadores. E é preciso dar condições também para que aqui se trabalhe e se viva. Essas condições de habitação também fortalecem aquele tecido económico de proximidade, ou seja, as livrarias, as pastelarias, as sapatarias, tudo o que existe nas nossas vilas e cidades. Isso só se mantém se as pessoas aqui viverem e trabalharem com salários dignos. Portanto, a nossa economia vai ser mais forte se tivermos este tipo de investimentos na habitação e no trabalho.

O que é que um deputado do Bloco de Esquerda por Santarém garante ao distrito e ao país nestas eleições? 

Nas eleições de há um ano, o Bloco de Esquerda foi a força de esquerda e do campo da ecologia mais próximo de eleger neste distrito. Nós estamos apostados em reconquistar a eleição de um deputado pelo distrito de Santarém. Um deputado do Bloco de Esquerda que vai defender o investimento público em emprego de qualidade e um investimento público na habitação. Nós queremos viver e trabalhar na nossa terra e é por isso que um deputado do Bloco de Esquerda vai lutar.