Uma fotografia publicada nas redes sociais pelo jornalista palestiniano Younis Tirawi mostra um grupo de militares com as bandeiras de Israel e da Brigada Golani, a unidade militar responsável pela execução de 15 paramédicos em Gaza há poucas semanas.
Este crime de guerra começou por ser negado pelo exército de Israel mas as imagens gravadas pelos paramédicos desmentiram a versão de que as ambulâncias onde seguiam não traziam luzes de emergência que as identificassem. O resultado do inquérito foi apenas o afastamento do responsável desta operação da Brigada Golani.
A presença desta unidade militar no exercício African Lion, o maior exercício militar do Comando Africano dos EUA que se realiza anualmente em Marrocos, Gana, Senegal e Tunísia, está a causar escândalo dentro e fora de Marrocos.
“Para o regime marroquino não apenas colaborar com os militares [israelitas], mas esfregar isso na nossa cara publicamente sem qualquer vergonha, honestamente não tenho palavras para isso”, disse Yassir Abbadi, da Frente Marroquina de Apoio à Palestina e Contra a Normalização, ao Middle East Eye.
“Nem sequer um genocídio transmitido em direto e milhares de pedaços de corpos nas ruas de Gaza vão fazer com que o regime marroquino se assuste - ou considere cortar os laços, ou pelo menos escondê-los”, prosseguiu o ativista.
As relações entre Marrocos e Israel reformaram-se desde os acordos de Abraão, assinados ainda durante a primeira administração Trump, que garantiu a Marrocos o reconhecimento da ocupação do Sahara Ocidental. Desde então, as relações comerciais entre os dois países têm aumentado bastante, com grandes investimentos na área da energia e tecnologia, mas também no campo militar, com a israelita Elbit Systems a tornar-se a maior fornecedora de armas a Marrocos.
A relatora especial da ONU para os territórios palestinianos ocupados também reagiu à notícia nas redes sociais, afirmando que “se confirmado, isso marcaria um novo limiar de depravação - e uma violação da obrigação internacional de investigar e processar indivíduos implicados em crimes de atrocidade”. Por isso, Francesca Albanese exorta as autoridades marroquinas a defenderem o Estado de direito, lembrando que “o mundo está a ver”.
O exercício militar African Lion começou em abril na Tunísia, prosseguindo em maio no Gana, Senegal e Marrocos. Nele participam mais de 10 mil tropas de mais de 40 países. Segundo a imprensa marroquina, Portugal é um dos países participantes na parte do exercício a decorrer em Marrocos, tal como Israel.
Em Portugal, o Bloco de Esquerda já questionou o Ministério da Defesa acerca da eventual participação de militares portugueses em exercícios conjuntos que envolvem também unidades militares responsáveis por crimes de guerra e contra a humanidade.