Boçalidades da extrema-direita não podem ficar impunes…

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José Carlos Lopes 

15 de junho 2024 - 10:19
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Renascem os lideres candidatos a ditadores em nome da moral que ilude uma massa humana desacreditada perante tanta corrupção, dando poder a governantes e regimes autocráticos, que sonham repetir tragédias humanitárias que a História nos traz à memória, quando se intensificam as guerras fratricidas e genocidas.

Manifestação naonazi na Alemanha
Manifestação naonazi na Alemanha. Foto Kai Schwerdt/Flickr

Os mais recentes acontecimentos protagonizados por forças de extrema-direita, que de forma impune em pleno Parlamento português ou eventos na rua cá dentro e lá fora, recorrem a métodos intimidatórios, difamatórios e insidiosos, fomentando o medo e promovendo o ódio, que em nome da liberdade de expressão consagrada na Constituição e o incipiente combate politico e ideológico, vai facilitando a normalização do racismo e da xenofobia, assim como o negacionismo populista, com reflexos nas consequências ambientais e os vários tipos de intempéries que afligem os povos nos diferentes continentes. Assim como a negação da riqueza humana que resulta da multiculturalidade, com boçalidades contra seres humanos do mundo, que procuram sobreviver e viver com a dignidade humana negada nos seus países de origem. 

Tais campanhas são baseadas nos diferentes tipos de violência, e na estratégia das noticias falsas, explorando de forma cínica e sádica a insatisfação de uma significativa franja do eleitorado, mais acessível a teorias da conspiração, num sistema acomodado ao situacionismo, aos donos disto tudo, que há décadas as várias famílias políticas sociais-democratas com sucessivas experiências governativas das suas variantes neoliberais, bem como as falhadas experiências de regimes socialistas, vão deixando caminho aberto para populismos de diferentes matizes, tendo como pontos comuns fragilizar e desmantelar o sistema de liberdades e democracia por mais musculada e incoerente que seja no ocidente, particularmente na Europa. 

Renascem assim lideres candidatos a ditadores em nome da moral que ilude uma massa humana desacreditada perante tanta corrupção, dando poder a governantes e regimes autocráticos, que sonham repetir tragédias humanitárias que a História nos traz à memória, quando se intensificam as guerras fratricidas e genocidas, como a invasão da Ucrânia pela Rússia em nome da caça aos nazis, resultando na destruição e morte nas principais cidades ou em aldeias, cuja paz só poderá ser certamente alcançada com corajosa resistência ao invasor impiedoso a exemplo de vários séculos de disputa e ocupação do celeiro regado pelo sangue ucraniano, tal como se repete dois anos depois da manifesta surpresa aos olhos dos analistas e comentadores, de uma guerra às portas da Europa, que evolui cada vez mais em função dos interesses naturalmente belicistas das grandes potências imperialistas, como um laboratório de teste de mais sofisticadas e mortíferas armas, ainda que à custa da chacina de milhares de militares e civis, crianças mulheres e idosos, ucranianos e russos. 

Ao mesmo tempo que acontece o genocídio sobre o povo palestiniano que resulta da destruição e morte provocada pela carnificina do terrorismo praticado pelo governo e exército de Israel, após o ataque terrorista do Hamas, que alimenta contraditórios critérios para a Europa e fundamentalmente os EUA financiarem material de guerra a Israel e negar o genocídio de que está a ser vítima o povo palestino, a quem cinicamente lhe procuram garantir abastecimento alimentar para suportar a morte a que milhões de refugiados estão encurralados sem garantia de terra segura no seu pais, a Palestina que o Mundo tarda a reconhecer, mesmo na base dos dois estados, Israel e Palestina.

É pois perante tais cenários de retrocesso civilizacional com que nos querem arrastar para o imobilismo e o medo, indiferença e desumanização, como objetivos políticos e ideológicos da extrema-direita, que nos deve fazer alertar para a necessidade de cerrar fileiras, desde logo à esquerda, para o combate aos fascismos, nazismos e imperialismos, que ameaçam os povos no Planeta. Neste texto recorre-se mesmo ao livro da historiadora Raquel Varela, “Breve História da Europa” (Bertrand Editora Lda, 2018), para que o regime nazi que inspira muitos dos personagens tresloucados da extrema-direita não seja branqueado ou negado de forma absurda, considerando estudos que nos lembram, que “o nazismo tem entre os seus apoiantes alguns dos maiores capitalistas alemães, que dominavam a economia e apostavam na economia de guerra e na expansão territorial belicista”.

A crueldade do Estado nazi, que alguns dos negacionistas da extrema-direita querem apagar da história, era de tal forma absurda, ao ponto de ter sido “o primeiro regime do mundo a reconhecer os direitos dos cães, em 1933. No ano em que Hitler abre Dachau para prisioneiros comunistas, trotskistas e social-democratas e lideres dos sindicatos, fez inflamados discursos públicos contra a crueldade com os animais, e em 1934 proibiu a caça.” Mais tarde, “em 1937, regulou o transporte de animais por estrada e, em 1938, o de comboio, para que os animais fossem transportados em condições decentes”. Sadicamente, “os mesmos vagões onde os judeus iriam como porcos a caminho da morte. Hitler proibiu ainda as experiências cientificas com animais, mas fez experiências com judeus (…)”. 

Mas o absurdo do regime nazi vai ao ponto de na Conferencia de Wannsee, a 20 de janeiro de 1942, calcularem que, “era impossível alimentar todo o império nazi com proteína (só comeriam batatas), porque, depois da derrota a leste, onde estavam as terras mais férteis, na Ucrânia não tinham acesso a campos de produção essenciais.” Assim “concluíram que era necessário parar de alimentar seis a sete milhões de pessoas”. Foi então decidida “a Solução Final contra os judeus”. Mais tarde foi a vez dos ciganos. Mesmo havendo “duas teorias sobre o Holocausto”, esta da chamada “visão funcionalista do Holocausto”, pode, segundo a historiadora, “provar que tem muito mais a ver com esta.” A decisão nazi que conclui, “se alguém tem que morrer, então, que sejam os judeus. A partir desse momento deixa de interessar se eles produziam um milhão de coisas para o Exercito alemão… havia demasiadas bocas para alimentar.”

Por mais democratas que se queiram apresentar os promotores do ódio e propagandistas da moral da extrema-direita, que se reúnem em eventos internacionais para apologia do ataque ao Estado Social e da legitimação dos ataques racistas e xenófobos que vão encontrando impunidade, exigem denúncia consequente e combate politico coerente nas escolas, nas empresas, nas várias instituições e na rua, incluindo os tribunais como respondeu o Bloco de Esquerda perante a provocação em frente da sua sede nacional em Lisboa, cuja solidariedade com o partido alvo dos promotores do ódio e do racismo, foi marcada por um estranho e acomodado silêncio.

José Carlos Lopes - Ovar