O Bloco de Esquerda questionou, na passada terça-feira, o Ministro da Defesa Nacional e a Ministra da Administração Interna sobre a ação do Governo frente ao Grupo 1143. As perguntas submetidas à Assembleia da República vêm no seguimento das notícias que dão conta da expansão e desdobramento do grupo de extrema-direita liderado por Mário Machado.
Ao Ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, o grupo parlamentar do BE colocou questões sobre a presença de membros do Grupo 1143 nas Forças Armadas e sobre que medidas o Governo irá tomar no caso destes membros serem identificados, pressionando para que se desenvolvam processos disciplinares visando a sua expulsão. Na pergunta, o partido lembra que o Relatório Anual de Segurança Interna de 2023 alerta “para o agravamento da ameaça da extrema-direita” e que a classificação dos crimes praticados por este tipo de grupos, com base na discriminação, estão identificados como “crimes de prevenção prioritária”, mas que essa tipologia não tem tido consequências práticas.
As perguntas enviadas à Ministra da Administração Interna procuram também perceber como é que este Ministério tem lidado com o crescimento dos grupos neonazis e se há dados sobre a presença dos seus membros dentro das Forças de Segurança, mas questionam também a avaliação que o Governo faz da continua atividade e crescimento do Grupo 1143, uma “organização contrária aos princípios constitucionais que se dedica à prática de crimes” e indaga sobre as medidas concretas que o Governo tem em mente para desmantelar o este grupo de extrema-direita.
No dia 12 de agosto, o Jornal de Notícias expôs o crescimento da “milícia de Mário Machado”, que criou mais de 20 grupos regionais e que tem espalhado notícias falsas e ódio pelas redes sociais “como um polvo”. Organizado no Telegram com 2500 membros e desdobrado nas redes sociais mainstream, o grupo conta, segundo o Jornal de Notícias, com “seis núcleos regionais, 11 distritais ou concelhios e dez em formação”. O grupo, segundo Mário Machado, estará “preparado para transformar o movimento em organização paramilitar”.
O grupo neonazi originou de uma fação da claque de futebol Juventude Leonina, que apoiava o Sporting Clube de Portugal e desenvolveu-se nos últimos 20 anos, transformando-se numa organização vertical ultra nacionalista, composta por membros skinhead, neonazis e de extrema-direita. Em maio de 2024, no Porto, um grupo de homens arrombou a porta de casa de um grupo de imigrantes e espancou-os violentamente. O jornal Expresso noticiava que entre este grupo de homens estariam membros do Grupo 1143, que também organizou uma manifestação anti-imigração na cidade do Porto.
Mário Machado, o líder do grupo, foi condenado várias vezes por discriminação racial, tráfico de armas proibidas, difamação, sequestro, extorsão e outros crimes graves. Foi também suspeito do homicídio de Alcindo Monteiro, tendo feito parte do grupo que agrediu violentamente e assassinou Alcindo com motivações racistas.
A conta de Youtube do Grupo 1143 foi bloqueada pela própria rede social na passada terça-feira, depois de uma investigação do New York Times sobre a extrema-direita em Portugal. Segundo um porta-voz do Youtube, as políticas da empresa “proíbem estritamente conteúdos que glorifiquem propaganda supremacista odiosa, incluindo símbolos de ódio, e encerrámos um canal que nos foi fornecido pelo New York Times”.