Bangladesh: fábricas abrem à força depois de greve dos trabalhadores do têxtil

04 de novembro 2023 - 17:44

Produzem para algumas das marcas mais conhecidas de vestuário mas pagam salários de miséria. 600 fábricas das fábricas têxteis do Bangladesh foram paradas pelos trabalhadores num movimento grevista massivo. A polícia reabriu-as pela força este sábado.

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Forças policiais do Bangladesh vigiam barricadas esta quarta-feira. Foto de MONIRUL ALAM/EPA/Lusa.
Forças policiais do Bangladesh vigiam barricadas esta quarta-feira. Foto de MONIRUL ALAM/EPA/Lusa.

Zara, Gap, H&M, Levi Strauss, Primark, Walmart, Marks and Spencer e Aldi. Muitas das grandes marcas de vestuário têm uma coisa em comum: dependem dos trabalhadores do setor têxtil do Bangladesh aos quais são pagos salários muito baixos. Este país é mesmo considerado o segundo maior exportador de vestuário com cerca de 3.500 fábricas que empregam perto de quatro milhões de pessoas. As exportações do setor representam 85% do total do Bangladesh.

Agora muitas destas fábricas conhecem uma vaga de agitação massiva com os trabalhadores a reivindicar um aumento de cerca de três vezes do salário mínimo, dos atuais 70 euros para 190, face à forte escalada do custo de vida.

No início da semana passada tinha começado uma série de manifestações diárias que fechou 600 fábricas de acordo com Kalpona Akter, presidente da Federação de Trabalhadores da Indústria e do Vestuário. A dirigente sindical acusa as marcas e fábricas de só se preocuparem “com a fluidez dos envios e com o lucro mas não com o bem-estar dos trabalhadores na base da cadeia de abastecimento ou com o facto de muitos trabalhadores estarem a passar fome”. A visibilidade do protesto internacional do protesto poderia fazer com que as grandes marcas “pressionem os fabricantes do Bangladesh para que paguem o salário que os trabalhadores estão a exigir”.

A polícia confirma a existência de duas mortes e dezenas de feridos na sequência dos protestos e alega que houve dezenas de fábricas saqueadas. Esta quarta-feira, os trabalhadores chegaram a erguer barricadas na capital Daca. Segundo a polícia seriam 5.000 a fazê-lo sem na ocasião terem existido conflitos, o correspondente da AFP estimou um número seria “claramente mais elevado”. Já em Gazipur, a polícia tinha lançado gás lacrimogéneo e granadas para dispersar os manifestantes que tinham respondido com pedras.

Este sábado, a polícia reabriu as fábricas fechadas pela força, tendo enfrentado em algumas zonas a oposição dos trabalhadores. Em Ashulia, nos arredores de Daca, terão sido perto de 10.000 os operários que se opuseram à reabertura, tentando bloquear as estradas e acessos antes de serem dispersados por ataques de gás lacrimogéneo na versão da polícia, contada à AFP.

As manifestações dos operários do setor têxtil coincidiram em parte com outra vaga de protestos. A oposição tem estado nas ruas a exigir a demissão do primeiro-ministro Sheikh Hasina. E episódios de violência têm também ocorrido aí. Dois militantes da oposição foram mortos no norte de Daca e a polícia acusou o líder do BNP, Partido Nacionalista do Bangladesh e outros 150 dirigentes deste do assassinato de um polícia.