Banca prepara uma expropriação em grande escala

01 de novembro 2013 - 18:02

Face ao aumento do crédito malparado e à debilidade dos seus balanços, a banca pretende substituir o lixo tóxico por bom dinheiro dos contribuintes, socializando mais uma vez o resgate do sistema financeiro. E tudo será completamente legal. Por Marco Antonio Moreno, El Blog Salmón.

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Crédito e crádito malparado na banca espanhola, agosto de 2013

O volume do crédito malparado nos bancos europeus atingiu os 1,2 biliões de euros em finais de 2012, duplicando o nível existente em finais de 2008. Em quatro anos, o volume dos créditos duvidosos aumentou de 514.000 milhões de euros para 1,187 biliões de euros, de acordo com a última auditoria da PricewaterhouseCoopers (PwC). A deterioração deve-se, em boa medida, à delicada situação económica que vivem Irlanda, Espanha, Portugal e Itália. Nos próximos anos, o crédito malparado continuará a aumentar, devido ao instável clima económico que abala as economias europeias, e ao facto de ainda existirem mais de 2,4 biliões de euros em ativos tóxicos que as entidades financeiras vão liquidar diante da iminente rodada de novos testes de stress por parte do Banco Central Europeu.

O relatório da PwC assinala que o país com maior volume de crédito malparado é a Alemanha, que em 2012 tinha 179.000 milhões de euros, cifra igual à do ano de 2011. Em Espanha, o crédito malparado aumentou bruscamente de 136.000 milhões em 2011 para 167.000 milhões de euros em 2012. Pelo contrário, na Grã-Bretanha diminuiu de 172.000 milhões para 164.000 milhões de euros. Na semana passada, o BCE anunciou que submeterá de novo a exame a saúde da banca europeia para avaliar de maneira mais real o tema do crédito malparado, dado que este não foi considerado com rigor nos testes anteriores.

Estes testes terão como objetivo reforçar a transparência das entidades financeiras e suprir os défices de provisões e de capital que possam aparecer diante de uma nova supervisão bancária em novembro do 2014. Os exames prolongar-se-ão durante um ano e Mario Draghi adiantou que “só vão passar os teste as principais entidades financeiras da zona euro, dado que a transparência será o objetivo primário dos testes”. Espera-se que esta avaliação fortaleça a confiança do sector privado na solvência dos bancos da eurozona e na qualidade dos seus balanços. Tudo isto para cumprir os requisitos de Basileia III.

Expropriação em grande escala

Daí que a banca tenha planos de fazer uma expropriação em grande escala… e que será completamente legal. Nesta quinta-feira passou despercebida a notícia do novo aval à banca espanhola de 28.000 milhões de euros, que faz parte destas apropriações de dinheiro público. Isto dá uma pista da forma como a banca pretende substituir o lixo tóxico que está nos seus balanços pelo bom dinheiro dos contribuintes. Um vez mais o resgate do sistema financeiro será socializado na maior expropriação de dinheiro público. Não será já só o dinheiro dos clientes e depositantes mas haverá também novamente o recurso a fundos públicos.

Isto demonstra aquilo em que se converteu o sistema financeiro com a globalização e a desregulamentação do dinheiro virtual. Evita-se a autodestruição do sistema financeiro por essa via tão criticada aos Kirchner ou aos Chávez da expropriação, essa palavra tão feia e impossível de imaginar na Europa de Angela Merkel. No entanto, desta vez a expropriação faz-se à vista de todos os europeus e ninguém diz nada. O mais incrível é que esta expropriação é de longo alcance e completamente legal.

Fica assim a descoberto a armadilha do sistema financeiro, que cria dinheiro do nada na geração de empréstimos, e põe em movimento um volume de dinheiro 50 ou 100 vezes superior ao dinheiro verdadeiro, conseguindo benefícios sumarentos em cada transação, que além disso reproduzem pela via dos interesses. Este mecanismo, conhecido também como o esquema ponzi das finanças globais, é o gerador das grandes crises financeiras das quais a atual crise é um dos seus mais claros resultados.

As baixas taxas de juros promovidas nos Estados Unidos no período de Alan Greenspan permitiram à banca mundial aceder ao dinheiro fácil que depois colocavam em empréstimos hipotecários em qualquer lugar do planeta (Ásia, Europa, América Latina). A crise asiática de 1997 foi a primeira advertência do caos que desencadeavam os fluxos financeiros na criação de bolhas imobiliárias, mas foi também o estímulo que a banca usou para ganhar dinheiro extorquindo os governos. Este facto não só deu resultado e enriqueceu bancos como o JP Morgan e o Goldman Sachs, como também foi multiplicado em grande escala com a geração de empréstimos imobiliários na Europa. Depois de cinco anos de crises, a banca europeia ainda mantém 2,4 biliões de euros em ativos tóxicos e desfazer-se deles é o verdadeiro cancro que pesa na recuperação e na saída da crise.

Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net