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Austrália: rusga policial na televisão pública

A ABC tinha divulgado documentos que mostravam que as forças armadas estavam a ser investigadas por crimes de guerra no Afeganistão. A polícia australiana fez esta quarta-feira uma rusga ao canal público. É a segunda vez esta semana que há uma intervenção policial na comunicação social neste país.
Edifício da ABC em Dubbo. Foto de Maksym Kozlenko/wikicommons

Na terça-feira passada a polícia federal fez uma rusga em Camberra à casa de Annika Smethurst, editora de política do The Sunday Telegraph of Sydney. Este jornal tinha feito uma história em 2018 sobre uma alegada tentativa governamental de espiar os emails e mensagens de telemóvel dos seus cidadãos. A empresa proprietária do jornal, a News Corp. Australia, insurgiu-se através de uma declaração onde considerava que a ação policial “demonstrava um ato perigoso de intimidação dirigido contra quem está empenhado em contar verdades desconfortáveis”.

No dia seguinte seguinte foi a vez da Australian Broadcasting Corporation. Alvo de uma rusga devido a uma notícia que divulgou documentos militares com provas que as forças armadas australianas estavam a ser investigadas por crimes de guerra no Afeganistão, o canal televisivo também veio a público colocar em causa as ações policiais. David Anderson, diretor-executivo da televisão pública, afirmou que a rusga “levanta preocupações legítimas sobre a liberdade de imprensa e o escrutínio público apropriado dos assuntos de segurança nacional e de defesa”.

A polícia alega que os casos não estão ligados e apoia-se numa lei de 1914 que proíbe a divulgação de informação secreta. Os jornalistas são assim acusados do crime de receber documentos secretos.

O primeiro-ministro conservador, Scott Morrison, reagiu escudando-se na independência da polícia e assegurou que defende a liberdade de imprensa. Só que não convenceu nem a oposição de esquerda, nem as associações de defesa dos direitos humanos, que suspeitam do timing da intervenção policial, pouco depois da eleições que reelegeram Morrison.

Anthony Albanese, do Partido Trabalhista, declarou que “acharia extraordinário que ninguém no Governo soubesse disto”. E os Verdes exigiram mesmo um inquérito parlamentar ao sucedido.

As suspeitas sobre a ação do governo adensam-se também porque em setembro do ano passado o presidente do canal público de televisão, Justin Milne, demitiu-se acusando o primeiro-ministro de interferências políticas.

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