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Ativistas palestinianos foram alvo de software israelita de espionagem

Especialistas em espionagem cibernética internacional denunciaram esta segunda-feira que palestinianos pertencentes a grupos de direitos humanos recentemente proibidos por Israel foram alvo do software Pegasus, do NSO Group. Suspeita-se de envolvimento do governo israelita.
Primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett. Foto de EPA/Ohad Zwigenberg / POOL, Agência Lusa.

A informação foi divulgada pela Front Line Defenders, um grupo de direitos humanos com sede em Dublin, pelo Citizen Lab, afiliado à Universidade de Toronto e pela Amnistia Internacional.

Conforme avança o The New York Times, os especialistas em espionagem cibernética internacional detetaram o programa Pegasus, do NSO Group, nos telefones de quatro funcionários de grupos de direitos humanos recentemente proibidos por Israel.

Os palestinianos visados suspeitaram que os seus telefones foram vigiados pouco antes das suas organizações serem proibidas, e pediram ajuda ao Front Line Defenders, que trabalhou com o Citizen Lab para rastrear os seus telefones.

Adam Shapiro, porta-voz da Front Line Defenders, disse que a investigação não provou ou identificou definitivamente quem utilizou o Pegasus neste caso. “Mas isso levanta muitas questões quanto ao papel não apenas do NSO, mas também de Israel”, adiantou. “Existem tantas opções que poderiam ser plausíveis - e as ações anteriores do governo israelita levantam questões reais sobre o que está a acontecer aqui e sérias dúvidas sobre qualquer negação que o governo faça”.

O gabinete do primeiro-ministro israelita e o Ministério da Defesa de Israel negaram que o Pegasus tenha sido usado para vigiar os telefones dos palestinianos.

Por sua vez, um porta-voz da NSO afirmou que a empresa não disse quem usou o software e que não sabia contra quem o programa foi usado. “Devido a considerações contratuais e de segurança nacional, não podemos confirmar ou negar a identidade de nossos clientes governamentais”, apontou.

O NSO, que foi recentemente colocado na lista negra dos Estados Unidos, foi alvo de um escândalo recente, devido ao seu programa Pegasus ter sido utilizado, inclusive por governos autoritários, para vigiar telefones de advogados, dissidentes, jornalistas, ativistas e políticos em dezenas de países.

O Pegasus permite que os seus utilizadores acedam remotamente e secretamente a um telefone, monitorizem a sua localização e extraiam conteúdo, incluindo mensagens criptografadas, vídeos, fotografias e contactos.

Grupos acusam Israel de querer silenciar o trabalho legítimo de organizações palestinianas

No mês passado, o governo israelita proibiu os grupos Addameer; Al Haq; Bisan; Defense For Children International-Palestine; Union of Palestinian Women’s Committees; e Union of Agricultural Work Committees alegando que os mesmos arrecadavam fundos para a Frente Popular pela Libertação da Palestina, que é considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia e outros países.

Os grupos, que estão sob investigação israelita desde o início deste ano, negaram coletivamente as acusações.

As autoridades israelitas referiram que a decisão baseou-se em informações confidenciais que foram apresentadas a vários serviços de informação e agências de aplicação da lei na Europa e nos Estados Unidos. Mas o Shin Bet, serviço de segurança interna de Israel, recusou-se a responder a perguntas sobre o conteúdo dessas informações adicionais e classificadas, ou se elas foram obtidas com recurso ao programa da NSO.

“Informações sólidas e inequívocas foram apresentadas, ligando as atividades das organizações à Frente Popular pela Libertação da Palestina”, disse um porta-voz do Shin Bet.

Um documento do Shin Bet divulgado na semana passada pela +972 Magazine e um parceiro norte-americano, The Intercept, resume parte dessa investigação, não apresentando evidências conclusivas de uma conspiração entre os grupos e a Frente Popular.

Os grupos explicam que o governo israelita quer silenciar o trabalho legítimo de organizações palestinianas, que têm vindo a denunciar as violações de direitos por parte das autoridades israelitas e palestinianas. Os seis grupos contribuíram para a denúncia de abusos cometidos por Israel; pela Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia; e pelo Hamas, que governa Gaza. As organizações também representam prisioneiros palestinianos em prisões israelitas e promovem os direitos de crianças, mulheres e agricultores.

Alguns dos grupos forneceram provas aos promotores do Tribunal Penal Internacional que estão a investigar políticos e militares israelitas, incluindo o atual ministro da Defesa, Benny Gantz, por possíveis crimes de guerra.

Frequentemente, partilham material e testemunhos com importantes grupos internacionais de direitos, como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, e são assiduamente citados nos media internacionais.

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