Ativistas anti-fascistas avançam com queixa contra ação violenta da polícia

15 de fevereiro 2024 - 21:08

Cerca de cem pessoas acusam a PSP de comportamento violento durante a contra-manifestação à marcha neonazi na praça do Município, no passado dia 3 de fevereiro em Lisboa.

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Mário Machado no desfile de ódio da extrema-direita de 3 de janeiro de 2024.
Mário Machado no desfile de ódio da extrema-direita de 3 de janeiro de 2024. Foto de Tiago Petinga, Lusa.

Segundo contou ao jornal Expresso Diogo Sobral, um dos cem manifestantes que foi alvo de bastonadas da polícia, e que acabaria por receber tratamento hospitalar, o que aconteceu foi um “cenário de horror”.

“Um grupo de cerca de cem pessoas decidiu ir de forma espontânea, do Largo do Intendente, onde se realizava o arraial anti-racista, para a Praça do Município, onde sabíamos que se ia reunir o Grupo 1143. Não pretendíamos confrontos. Era tudo numa lógica pacifista”, relata.

O ativista, que ficou com ferimentos na canela e com as calças cheias de sangue, diz que surgiram cerca de 20 a 30 polícias e que não houve tempo para negociação. “Em poucos segundos estávamos a ser alvo de uma carga policial hiper-violenta e desproporcional.” 

Entre os agredidos encontravam-se ativistas anti-fascistas e anti-racistas, mas também alguns jornalistas do Fumaça e do Setenta e Quatro, que também apresentaram queixa-crime ao MP e IGAI.

Num comunicado enviado à comunicação social a 6 de fevereiro, a associação SOS Racismo refere que segundo jornalistas que estavam no local, “sem qualquer aviso prévio para dispersar, a polícia de intervenção rápida recorreu à força e a gás pimenta sob as e os manifestantes que, pacificamente, protestavam e contestavam o espaço público. Além dos ativistas, dois jornalistas em exercício de funções foram espancados, empurrados e pontapeados, bem como turistas e outros transeuntes que assistiam ou passavam na Rua do Arsenal, resultando em quatro feridos com gravidade e dois detidos. Um dos detidos, já imobilizado no chão, foi agredido com duas cacetadas nas costas. Os elementos da polícia de intervenção rápida, contrariamente à obrigatoriedade legal e recomendação da Inspeção-Geral da Administração Interna, não exibiam nenhum elemento de identificação visível e frontal, com o nome ou número.”

Ao Expresso, uma fonte da PSP, que disse temer confrontos entre grupos rivais, confirma que houve bastonadas da polícia contra os ativistas que ali se deslocaram. “Foi-lhes ordenado para dispersarem e não obedeceram. Teve de se usar a força.” 

Segundo a Direção Nacional da PSP “não existia qualquer comunicação de manifestação para a Praça do Município para além daquela que iniciou no Largo Camões e que terminava naquele local [a dos neonazis]”, respondeu ao Expresso. E acrescenta que, durante a operação de segurança à manifestação, a PSP “percecionou que existia um grupo de manifestantes na Praça do Município e que esse grupo teria como intenção confrontar o grupo de manifestantes que se dirigia em desfile para aquele local”.

SOS Racismo condena veementemente a violência perpetrada

A associação anti-racista repudia a atuação da PSP que, “ao invés de proteger, agiu com desmedida brutalidade contra manifestantes pacíficos. Exigimos que a tutela e a Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) realizem um rigoroso apuramento das responsabilidades criminais dos agentes que atuaram de forma ilegal, assegurando que a justiça prevaleça e que tais atos não se repitam, em respeito à lei e aos direitos fundamentais.”

Repudia também a atuação da Câmara Municipal de Lisboa, pelo incumprimento do “Código Penal e da Constituição da República Portuguesa, no ano em que se comemora 50 anos de Abril. 50 anos depois, as ruas, a Liberdade, volta a estar comprometida, com o silêncio de todas as autoridade e de todo o sistema estatal.”