Mais de mil pessoas encheram o Largo do Intendente este sábado à tarde, acorrendo ao apelo de várias associações e coletivos em resposta à convocatória de uma marcha organizada por grupos de extrema-direita contra a "islamização". A intenção dos organizadores desta marcha era percorrer a zona da Mouraria e Intendente, onde vivem muitos imigrantes. Mas foi proibida pela autarquia e os tribunais e em vez das mensagens de ódio aquele bairro lisboeta foi ocupado pelo convívio, música e comes e bebes, por entre intervenções num palco com microfone aberto à população e uma palavra de ordem em destaque: "Racistas, fascistas, não passarão!"
“Quando existe uma ameaça, como existe para esta comunidade do Benformoso (artéria do bairro da Mouraria), nós agimos em conformidade. Ou nós permitimos que estas ideologias de ódio, divisoras, continuem a marcar a política ou nós avançamos e fazemos questionamentos”, disse à agência Lusa António Tonga, membro do coletivo Consciência Negra.
Mariana Mortágua também se juntou a este arraial multicultural contra o racismo e a xenofobia para prestar a solidariedade do Bloco de Esquerda e lembrar que "cada vez que há uma pequena minoria que quer afirmar o ódio e a violência em Portugal, há uma grande maioria que se levanta ela decência e os direitos humanos e que diz que Portugal tem o dever de integrar toda a gente que nos procura para uma vida melhor".
Para além desse dever de integração por uma questão de respeito pelos direitos humanos e "porque é assim que se constrói um país decente, democrático e livre", Mariana Mortágua disse aos jornalistas que "Portugal também tem muito a dever aos imigrantes que neste momento estão a pagar as reformas da Segurança Social, garantem setores essenciais: na alimentação, agricultura, pescas e turismo".
"O que devemos fazer é integrar estes imigrantes ao invés de procurar alimentar divergências, ódio e violência. Nenhuma sociedade alguma vez melhorou com este tipo de discurso de ódio. Estamos aqui para afirmar o que é sensato, que é a decência", prosseguiu a coordenadora bloquista, considerando a marcha da extrema-direita "um ato de incitamento ao ódio às pessoas só porque são imigrantes, nasceram noutro país e têm uma cor de pele diferente", algo que "a Constituição não tolera", concluiu.