Depois das primárias e das sondagens darem uma vitória do candidato de extrema-direita, foi afinal o peronista Sergio Massa quem foi o mais votado nas eleições presidenciais argentinas deste domingo. O atual ministro da Economia obteve 36,6% dos votos com o economista ultra-liberal Javier Milei a ter 30% e a candidata da direita tradicional e ex-ministra da Administração Interna, Patricia Bullrich a ficar-se pelos 23,8%. Completam o quadro das candidaturas o peronista dissidente e governador de Córdoba, Juan Schiaretti, com 6,8%, e a advogada e deputada Myriam Bregman, candidata da Frente de Esquerda, com 2,7%.
Milei, um ultra-liberal místico e extravagante, tinha vindo a ganhar espaço nos últimos tempos com um discurso de rutura apoiado na imagem da moto-serra para supostamente “cortar” com a elite política dominante e nos gastos do Estado. Nas suas propostas incluem-se a dolarização da economia, o encerramento do banco central e a diminuição do número de governantes bem como a liberalização do uso de armas e a repressão das mulheres que recorram à interrupção voluntária da gravidez. Parecia beneficiar do facto de enfrentar nas urnas um governante incapaz de controlar a inflação que se situa nos 138% e reduzir a pobreza que atinge 40% da população e a gerir um programa de ajustamento negociado com o FMI a troco de um empréstimo.
No sistema eleitoral argentino o voto é obrigatório mas a afluência às urnas ficou-se pelos 74%, a mais baixa desde o fim da ditadura. Este implica igualmente que um candidato presidencial ganhe se tiver mais de 45% dos votos ou 40% e um distância para o segundo mais votado de 10%. Como Massa não conseguiu obter nenhum destes patamares, a 19 de novembro haverá uma segunda volta em que a questão será se a rejeição de Milei será suficiente para o candidato governamental triunfar e o que farão os eleitores da direita tradicional.
Assim, o ambiente na sede de campanha de Massa este domingo à noite oscilou entre a euforia dos seus apoiantes e o seu discurso contido que foi no sentido de dizer que se abria “uma nova fase na história política da Argentina” e a garantir que “não ia falhar” aos que mais têm sofrido com a crise económica.
Do outro lado, “histórico” era também o adjetivo guardado para caracterizar a noite eleitoral. Milei fundou o “A Liberdade Avança” há dois anos, quando uma “mensagem divina” o teria empurrado para a política e gabou-se de ter conseguido neste tempo chegar à segunda volta quando há dias garantia que a vitória à primeira era garantida. Para ele, o dia foi histórico porque “dois terços dos argentinos votaram pela mudança”. Vários dos seus apoiantes, no seguimento dos discursos trumpistas e bolsonaristas, falavam em fraude eleitoral.
À esquerda, Myriam Bregman superou os 709.000 votos e declarou que o que prevaleceu nas eleições foi “o voto contra o comboio fantasma representado por Javier Milei e todos os seus candidatos de extrema direita que reivindicaram a ditadura militar”. Lembrou ainda que “o candidato Sergio Massa está vinculado à política do Fundo Monetário Internacional” e que “a sua política exige mais tarifas e ataques às condições de vida dos trabalhadores”. A candidata celebrou a eleição de cinco deputados nacionais e o aumento de um na província de Buenos Aires e anunciou-se uma ronda de reuniões entre os quatro partidos da coligação para consensualizar uma posição face à segunda volta.