Apesar do embargo, França vendeu 152 milhões de euros de armamento à Rússia

17 de março 2022 - 16:28

Ao todo, foram dez os países a exportar equipamento militar para a Rússia entre 2014 e 2021, no valor de 346 milhões de euros. Armas de França, Alemanha, Itália, Áustria, Bulgária, República Checa, Croácia, Finlândia, Eslováquia e Espanha poderão estar a ser usadas na invasão da Ucrânia.

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Foto de Stockvault.

De acordo com o Investigate Europe, citado pelo jornal Público, um terço dos Estados-membros da União Europeia exportou “equipamento militar” para a Federação Russa após o embargo de 2014. Em causa estão mísseis, bombas, torpedos, navios e carros de assalto.

Desde julho de 2014, “é proibida a venda, fornecimento, transferência ou exportação direta ou indireta de armas e material conexo de todos os tipos, incluindo armas e munições, veículos e equipamento militar, equipamento paramilitar e respetivas peças sobresselentes, para a Rússia por nacionais dos Estados-membros ou a partir dos territórios dos Estados-membros ou utilizando navios ou aviões que usem a sua bandeira, quer sejam ou não originários dos seus territórios”.

No entanto, França, Alemanha, Itália, Áustria, Bulgária, República Checa, Croácia, Finlândia, Eslováquia e Espanha beneficiaram de uma lacuna legal do embargo, na medida em que este não se aplica aos contratos e acordos, nem às negociações em curso, realizadas antes de 1 de agosto de 2014, nem “para o fornecimento de peças sobressalentes e serviços necessários para a manutenção e segurança das capacidades existentes”.

A França é responsável por 44% das vendas de armamento à Rússia, num negócio que ascendeu a 152 milhões de euros e que envolve a emissão, desde 2015, de licenças de exportação para “bombas, foguetes, torpedos, mísseis, cargas explosivas”, armas letais, mas também “equipamento de imagem, aviões com os seus componentes” e drones.

Segundo a investigação do jornal Disclose, as vendas abrangem ainda “câmaras de imagem térmica para mais de 1000 tanques russos, bem como sistemas de navegação e detetores de infravermelhos para caças e helicópteros de combate”. O negócio foi firmado entre o Kremlin e as empresas Safran e Thales, cujo principal acionista é o Estado francês.

Acresce que, de acordo com o Investigate Europe, em 2014 mantinham-se as licenças para a exportação de “agentes químicos ou biológicos tóxicos, agentes anti-motim e substâncias radioativas”.

O Ministério das Forças Armadas francês alega estar a “aplicar muito estritamente” o embargo de 2014, referindo que os mísseis, foguetes, torpedos e bombas enviados para a Rússia nos últimos cinco anos são, “numa palavra, um fluxo residual, resultante de contratos passados (...) e que se extinguiu gradualmente”.

No segundo lugar do pódio dos maiores exportador de armamento para a Rússia surge a Alemanha, com um negócio de 121,8 milhões de euros. Ou seja, 35% do total das exportações, que incluem espingardas, navios quebra-gelo e veículos de “proteção especial”.

Já Itália vendeu mais de 22 milhões de euros em armas à Rússia. Para o efeito, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, cujo titular à época era Paolo Gentiloni, agora comissário europeu, emitiu uma autorização especial. Os veículos de guerra adquiridos a Itália pela Rússia foram encontrados, por um jornalista do canal de televisão La7, na linha da frente ucraniana, no início da invasão.

No que respeita aos restantes países, a República Checa exportou “aeronaves, mais leves do que os veículos aéreos, veículos aéreos não tripulados, motores aeronáuticos e equipamento aeronáutico” todos os anos entre 2015 e 2019 e a Áustria exportou anualmente “armas de canos lisos de calibre inferior a 20mm, outras armas e armas automáticas de calibre 12,7mm” e “dispositivos de ajuste de munições e fusíveis, e componentes especialmente concebidos para o efeito”. A Bulgária, por sua vez, firmou dois negócios, em 2016 e 2018, que envolvem “navios de guerra (de superfície ou submarinos), equipamento naval especial, acessórios, componentes e outros navios de superfície” e “tecnologia” para o “desenvolvimento”, “produção” ou “utilização” de artigos controlados na Lista Militar Comum da UE”, no valor de 16,5 milhões de euros.

De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, a Rússia foi, logo após a China, o segundo maior comprador de armas à Ucrânia nos últimos oito anos.

 

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