Cuba

Amnistia Internacional exige libertação de todos os presos políticos

16 de janeiro 2025 - 18:30

Organização afirma que só as pessoas detidas depois das manifestações de julho de 2021 são 600. Historiadora e ativista dos direitos civis diz que sistema político cubano é “uma fábrica potencial de presos políticos”.

porLuís Leiria

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Maykel Osorbo
O músico Maykel Osorbo, autor de "Patria y Vida", que se tornou um dos hinos da contestação, é um dos presos políticos cubanos mais conhecidos. Imagem Amnistia Internacional,

Diante da anunciada libertação de 553 presos cubanos, a Amnistia Internacional exigiu em comunicado a libertação de todos os presos políticos em Cuba. “Atualmente, mais de 600 pessoas continuam detidas pela sua participação em protestos desde 2021”, afirma, destacando os nomes de nove presos de consciência: Luis Manuel Otero Alcántara, Maykel Castillo Pérez (Osorbo), José Daniel Ferrer G e darcía, Loreto Hernández García, Donaida Pérez Paseiro (libertada esta quarta-feira), Roberto Pérez Fonseca, Félix Navarro, Saylí Navarro y Luis Robles.

Para a Amnistia, o governo cubano deve pôr fim à repressão e garantir os direitos à liberdade de expressão, associação e reunião pacíficas, revogando as leis que criminalizam os protestos.

Pelas contas de outra organização de direitos humanos, a Prisoners Defenders, Cuba fechou o ano com 1161 presos políticos.

Sistema político cubano é fábrica de presos políticos

Ouvida pela Rádio Marti, a historiadora e ativista pelos direitos civis Alina Bárbara López Hernandez manifestou a sua alegria pela decisão, tomada após negociações do governo cubano com o Vaticano, de libertar 553 pessoas que estavam presas. “Aplaudo sinceramente. Oxalá não venha acompanhada de pressões para que se exilem. Cuba é a sua pátria e se decidem ficar cá, a sua decisão deve ser respeitada.”

Também apoiou a decisão da Casa Branca de retirar Cuba da lista dos países que apoiam o terrorismo. “Só acho lamentável que o presidente Biden tenha esperado chegar a seis dias da saída  da Casa Branca para tomar um decisão como esta.”

Mas Alina Bárbara alerta para uma questão que vê como central para compreender o que aconteceu: “aqui não cabe qualquer ingenuidade, o sistema político cubano é uma fábrica potencial de presos políticos. Portanto, libertar os que hoje foram anunciados (que acho muito bem) não quer dizer que essas prisões não vão se enchendo novamente de presos.”

Para a historiadora, o governo cubano sempre quis tratar esta questão como se fosse um assunto externo, mas trata-se de um conflito entre um estado autoritário, já abertamente ditatorial, e uma cidadania desprovida de direitos e em condições de exclusão social.

Visto assim, “os presos políticos não são a causa, mas sim a consequência deste problema.”

“A questão essencial é a impossibilidade do exercício de direitos por parte da cidadania”, afirma, destacando que a “estrutura política que existe em Cuba, e que gera a exclusão, não depende dos Estados Unidos; portanto, mudá-la também não dependerá de relação ou negociação com aquele país.”

De ‘La Joven Cuba’ a ‘Cuba X Cuba’

Alina Bárbara López Hernandez foi coordenadora do La Joven Cuba, um site de intervenção política e de oposição ao governo. Quando esta publicação foi domesticada, Alina esteve no grupo fundador de Cuba X Cuba, um novo espaço muito crítico ao governo do presidente Díaz-Canel.

Em junho de 2024, Alina foi detida quando se dirigia a Havana para fazer um protesto diante da estátua de José Marti, junto com uma colega, Jenny Pantoja. Agentes da Polícia interceptaram o carro onde viajavam. Depois de identificadas, foram agredidas inesperadamente, passando depois a serem elas mesmas as acusadas de agressão (a oficiais da Polícia!). Com isso, foram conduzidas de volta a Matanzas, cidade a cerca de 100 quilómetros da Havana, onde ambas moram.

Interrogada por um membro da Segurança do Estado, Alina Bárbara questionou se estava detida e se estava proibida de viajar a Havana, ao que o agente respondeu negativamente, com um sorriso sardónico.

Luís Leiria
Sobre o/a autor(a)

Luís Leiria

Jornalista do Esquerda.net