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Amazon despede trabalhador que denunciou falta de condições de proteção

Nas instalações da Amazon, o número de infeções está a crescer e faltam materiais de proteção para os trabalhadores. Um deles é Chris Smalls, que desafiou o gigante da distribuição com um protesto em Nova Iorque e foi despedido, despertando uma onda de solidariedade.
Foto de Fibonacci Blue/Flickr

Chris Smalls tem 31 anos, é de Newark e trabalhou durante cinco anos no armazém da Amazon de Staten Island, Nova Iorque, conhecido como JFK8. Foi despedido na segunda-feira 30 de Março, por telefone, duas horas depois de ter liderado um protesto que juntou cerca de 100 trabalhadores daquele armazém da gigante da distribuição. Em plena crise pandémica e perante relatos de um número crescente de colegas com testes positivos da covid-19, pediam que o armazém fosse alvo de uma limpeza e desinfeção completa, que lhes fossem fornecidos equipamentos de protecção e garantido um subsídio de risco por terem que trabalhar em plena pandemia.

A Amazon quis fazer de Chris Smalls um exemplo para todos os demais. Apenas ele foi despedido. É a própria Amazon que confirma que mais nenhum trabalhador foi despedido ou alvo de processo disciplinar. A empresa alega que Chris violou uma ordem para permanecer em quarentena que lhe teria sido enviada no sábado anterior, e que desrespeitou diversos avisos para manter a distância social dos demais colegas. O trabalhador refuta as acusações e explica que tinha contestado a ordem de quarentena, por ter sido o único a recebê-la quando apenas esteve em contacto com o colega em causa durante 5 minutos, mas os demais colegas trabalharam junto dele mais de 10 horas não receberem ordem de quarentena. Chris recusa também que tenha sido despedido por não ter respeitado a distância social, e explicou à ABC News: “é suposto recebermos um aviso verbal, depois receber documentação, depois nota escrita e só depois segue para rescisão. Então como é que saltaram todas as três etapas e foram diretos para a rescisão?”

 

A Procuradora Geral de Nova Iorque, Letitia James, reagiu no próprio dia 30 à noite, e avisou que o direito dos trabalhadores a organizarem-se pelos seus direitos é garantido por lei e que qualquer medida de retaliação das entidades patronais diretamente relacionada com o uso desse direito pelos trabalhadores é proibida. A Procuradora afirmou ainda que “numa altura em que tantos nova-iorquinos estão a sofrer e estão tão profundamente preocupados com a sua segurança, esta ação foi também imoral e desumana.”

Também o Mayor da cidade de Nova Iorque, Bill de Blasio, anunciou que solicitou uma investigação do Comité dos Direitos Humanos da cidade para averiguar se Chris Smalls foi despedido por ter organizado o protesto. “Se for assim, isto seria uma violação da legislação da cidade sobre direitos humanos e poderíamos agir sobre isto imediatamente.”

Nos últimos dias, vários trabalhadores da Amazon, em diversos locais, têm denunciado que as medidas de proteção praticadas pela companhia não são suficientes para manter a sua segurança, e que as medidas desiguais que têm sido aplicadas nas diversas instalações em todo o país têm lançado um sentimento de desconfiança entre os trabalhadores e as suas gerências. Na maior parte das instalações falta desinfetante ou gel de álcool para as mãos, ou é racionado. Não há informação sobre os trabalhadores doentes. Os trabalhadores dizem-se obrigados a escolher entre arriscar a sua saúde ou ficar em casa e não ter dinheiro para pagar as contas.

Chris Smalls anunciou que vai contestar judicialmente o seu despedimento e que irá continuar a lutar. E assina um artigo de opinião publicado pelo The Guardian, onde conta a sua história, fala da luta e termina com uma mensagem para Jeff Bezos: "Pensa que é poderoso? Nós somos os que temos o poder. Se não trabalharmos, o que irá fazer? Não terá dinheiro. Nós temos o poder. Nós é que fazemos dinheiro para si. Nunca se esqueça disso."

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