Na sua reação aos resultados eleitorais em França, Mariana Mortágua destacou esta segunda-feira que foi possível encontrar uma alternativa num “país que estava preso a uma falsa escolha entre as políticas neoliberais, protagonizadas por Macron”, que “degradavam as condições de vida dos franceses” e “o neo-fascismo de Le Pen baseado no ódio e na divisão”.
Essa alternativa, sublinha, “veio da esquerda”. Uma esquerda que “mostrou que um programa forte, um programa de rutura com as políticas liberais do centrão de Macron, que recusa todos os princípios da extrema-direita, pode ser uma força ganhadora”. Sobre ele afirmou que “é um programa de afirmação de políticas de igualdade, com aumento do salário, a começar com o aumento substancial do salário mínimo, com um imposto sobre grandes fortunas, políticas de redistribuição de riqueza, que possam garantir que a riqueza que é produzida é redistribuída de forma igual, entre todos os cidadãos que contribuem para uma economia e para uma da democracia mais vivas”.
Para além disso, é ainda “um programa de solidariedade que não cedeu um milímetro ao discurso de extrema-direita sobre imigração” nem noutras questões como no feminismo, nos LGBT”.
E é ainda um “programa de futuro” porque aposta no planeamento ecológico e “quer olhar para a economia e pensar como é que o Estado, uma intervenção estatal, pode rejeitar a economia de um desastre climático e pode recuperar uma economia pujante e produtiva, mas com o centro nas pessoas”. Em tudo isso vê a coordenadora do Bloco “uma fonte de esperança, não só para a França, mas para toda a Europa”.
Questionada sobre as lições para o resto da Europa desta vitória eleitoral da esquerda e em particular para Portugal, afirmou que “o centro liberal, que é Macron, em França, que em certa medida foram as políticas liberais adotadas pelo Partido Socialista em Portugal, tem vindo a perder apoio, mas a tentar combater essa falta de apoio com uma permanente política de chantagem, dizendo: votem em nós por causa da extrema-direita”. Em França “esse centrão falhou de forma muito acelerada”.
Por outro lado, a extrema-direita cresce na Europa “baseada nos mesmos princípios, na exploração do mesmo ódio, na exploração da imigração, do racismo, do ressentimento, da desesperança que as pessoas têm no futuro”, outro elemento que também existe em Portugal.
A “lição a tirar” da atual situação francesa é assim que um programa alternativo à extrema-direita e ao centrismo liberal “que é uma degradação das condições de vida e o empobrecimento das pessoas que não aguentam face à inflação, à crise da habitação, ao aumento do preço dos serviços de saúde e que estão a perder qualidade de vida a cada dia que passa”, é o programa da esquerda. O que “foi possível fazer em França” com um programa de rutura, de afirmação de solidariedade, de igualdade” corresponde no nosso país ao programa do Bloco de Esquerda, defende.
Para Mariana Mortágua, “as políticas do Partido Socialista contribuíram para cedências ao neoliberalismo” que acabaram por fazer crescer o papão da estrela-direita. Os “diálogos à esquerda” que o Bloco pretende abrir são feitos com vista a “apresentar uma alternativa que as pessoas possam ver como credível” entre o projeto liberal e o neo-fascismo, resumiu.