Agricultores indianos voltam ao protesto, Modi ataca-os com gás lacrimogéneo

22 de fevereiro 2024 - 17:31

Dois anos depois, milhares de agricultores pretendem reeditar a mobilização que fez vergar Modi. Desta feita, a polícia bloqueou estradas para impedir o seu avanço e não voltar a haver um acampamento massivo de protesto perto da capital.

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Agricultores indianos protegem-se do gás lacrimogéneo. RAJAT GUPTA/EPA/Lusa.
Agricultores indianos protegem-se do gás lacrimogéneo. RAJAT GUPTA/EPA/Lusa.

A polícia indiana atacou com gás lacrimogéneo e canhões de água esta quarta-feira a marcha de agricultores que se tem estado a dirigir a Nova Deli desde a semana passada, travando a rota do protesto a cerca de 200 quilómetros da capital na fronteira entre o estado do Punjab e Haryana.

De acordo com as estimativas da polícia, seriam pelo menos 10.000 manifestantes e 1.200 tratores só na zona de Shambhu, um dos dois pontos de concentração nesta zona. O outro é Khanauri.

A iniciativa replica o movimento de há dois anos que tinha levado dezenas de milhares de agricultores a acampar nas proximidades da cidade durante mais de um ano em protesto contra as propostas de liberalização do governo de extrema-direita hindu de Narendra Modi. Então, o governo foi obrigado a recuar naquela que foi vista como a maior derrota política do primeiro-ministro indiano desde que ocupou o cargo.

Para tentar prevenir um novo sucesso, as autoridades indianas barricaram desta vez as auto-estradas de acesso com blocos de cimento, contentores, arame farpado e espigões de metal. Os agricultores tentaram ultrapassar estas barreiras com escavadoras e seguiu-se a repressão.

Jagjit Singh Dallewal, um dos dirigentes do protesto, citado pela Reuters, garante que os manifestantes só pretendem chegar à capital “de forma pacífica” para fazer ouvir as suas razões e que, por isso, “o governo deveria remover as barricadas”, “não sendo justo” impedir a sua marcha.

A política protecionista do governo indiano em termos agrícolas data dos anos 1960. Dita-se um preço mínimo para algumas colheitas, o que previne a especulação e garante rendimentos aos agricultores. O preço mínimo pode ser aplicado a 23 produtos agrícolas mas, habitualmente, resume-se ao trigo e ao arroz.

Os agricultores defendem que todos os 23 produtos devem ter preço fixo e rejeitaram esta segunda-feira uma proposta do governo que incluía contratos de cinco anos com preços garantidos em apenas algumas cinco culturas que incluem o milho, leguminosas e algodão.

Em causa estão ainda promessas que ficaram por cumprir depois da mobilização anterior como a de remover processos judiciais avançados na vaga anterior de protestos e compensar as famílias dos agricultores que então morreram, o perdão de dívidas agrícolas, o não aumento da tarifa de eletricidade, pensões para agricultores e trabalhadores agrícolas.