Trinta anos após as primeiras eleições pós-apartheid, o ANC corre o risco de ficar abaixo da fasquia dos 50% nas eleições gerais e provinciais. A organização nacionalista que dirige o país, em aliança com o Partido Comunista Sul-Africano (SACP) e a principal central sindical COSATU (Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos), está a pagar o preço das suas políticas liberais.
Austeridade e corrupção
A África do Sul é um dos países mais desiguais do mundo, resultado de décadas de políticas liberais. O desemprego atinge quase 33% da população ativa e mais de 45% entre os jovens. Os serviços do Estado garantem cada vez menos apoios sociais, educativos e de saúde aos mais pobres. Os cortes de eletricidade aumentam e duram mais tempo. A sociedade continua a ser violenta, sobretudo contra as mulheres.
Simultaneamente, os sucessivos governos do ANC têm sido fustigados por escândalos de corrupção. Recentemente, Nosiviwe Mapisa-Nqakula, Presidente da Assembleia Nacional, foi detida e acusada de aceitar subornos quando era ministra da Defesa. A corrupção tem consequências nefastas para a população. O conselho de administração do Sistema Nacional de Ajuda Financeira aos Estudantes, que gere as bolsas de estudo, foi dissolvido devido a subcontratos duvidosos e à sua incapacidade de cumprir a sua missão. Milhares de estudantes estão sem bolsas há meses.
O confronto eleitoral
Perante esta crise social, a situação política não é nada animadora. O ANC, que detém a maioria absoluta com 230 lugares num total de 400, fragmentou-se com a emergência de um novo partido, o MK (uMkhonto we Sizwe), liderado por Jacob Zuma, o antigo Presidente que foi forçado a demitir-se devido aos seus inúmeros envolvimentos em escândalos de corrupção. Com uma forte presença em KwaZulu-Natal, é-lhe atribuído 13% dos votos. Os Economic Freedom Fighters de Julius Malema terão cerca de 10% e apresentam uma retórica populista. Existem ainda outros pequenos partidos liderados por antigos membros do ANC de honestidade duvidosa. O principal partido da oposição, a Aliança Democrática, é de direita e, de acordo com as sondagens, está a subir para 27%. Por último, mas não menos importante, o aparecimento de organizações abertamente xenófobas é um novo sinal de rotura social.
É o caso da Action SA, que espera capitalizar os recorrentes surtos de violência contra os estrangeiros. Uma vez terminadas as eleições, é provável que se coloque a questão das alianças, com o risco de agravamento das políticas de austeridade. A esquerda radical está demasiado enfraquecida para participar nestas eleições e concentra os seus esforços na sua recomposição em conjunto com ativistas em lutas sociais e ambientais.
Paul Martial é editor do Afrique en Lutte. Artigo publicado em Afrique en Lutte. Traduzido por Luís Branco para o Esquerda.net.