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400 intelectuais escrevem a Macron contra a criminalização do anti-sionismo

Para os subscritores, a proposta que Macron discutiu com Netanyahu é “absurda”, uma vez que o anti-sionismo é uma opinião legítima contra a lógica colonizadora de Israel.
Emmanuel Macron anunciou a proposta de criminalizar o anti-sionismo após falar ao telefone com Netanyahu. Foto Governo de Israel/Flickr

Os ataques anti-semitas em França nas últimas semanas, que culminaram na vandalização de dezenas de campas num cemitério judaico na Alsácia, levantaram uma onda de indignação na sociedade. Agora, o presidente francês passou a defender a criminalização do anti-sionismo, anunciando a sua posição após uma conversa telefónica com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

Em resposta, 400 intelectuais franceses escreveram um abaixo-assinado, publicado no diário Libération, onde contestam a intenção de Macron e lembram que o anti-sionismo é uma opinião e “uma corrente de pensamento nascida entre os judeus europeus na altura em que o nacionalismo judeu se desenvolvia”. Um pensamento “que se opõe à ideologia sionista que preconizava (e ainda preconiza) a instalação dos judeus na Palestina, hoje Israel”.

O argumento central do anti-sionismo sempre foi o de que “a Palestina nunca foi uma terra vazia de habitantes” que pudesse ser colonizada em nome de uma promessa divina, mas sim “um país povoado por habitantes bem reais, para os quais o sionismo cedo se tornou sinónimo de êxodo, espoliação e negação de todos os seus direitos”. Por isso, prosseguem, os anti-sionistas sempre foram anti-colonialistas. “Proibi-los de se expressarem a pretexto de que os racistas se servem desta designação para esconder o seu anti-semitismo, é absurdo”, concluem.

Defendendo que os judeus franceses têm o direito a viver em segurança no seu país e que deve ser respeitada a sua liberdade de expressão e pluralidade de opiniões, os subscritores apelam à punição severa dos crimes anti-semitas. “Mas certamente não queremos que você entregue os judeus da França e a sua memória à extrema-direita israelita, como está a fazer ao exibir ostensivamente a sua proximidade com o sinistro “Bibi” e os seus amigos franceses”, dizem os subscritores ao presidente francês.

Entre os primeiros signatários do texto encontram-se professores universitários, polítólogos, jornalistas, cineastas, filósofos e artistas plásticos como Gilbert Achcar, Naomi Fink, Mireille Fanon-Mendès France, Alain Gresh, Eric Hazan, Marie Miéville, Gustave Massiah, Elia Suleiman ou Françoise Vergès.

“O sionismo provou que quando a sua lógica colonizadora é levada ao extremo, como hoje acontece, isso não é bom nem para os judeus em todo o mundo nem para os israelitas, nem para os palestinianos”, prossegue o texto do abaixo assinado em que os subscritores prometem desafiar qualquer proibição que recaia sobre os seus textos, obras artísticas e atos de solidariedade.

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