As cinco maiores empresas petrolíferas mundiais cotadas em bolsa irão atribuir aos seus acionistas dividendos no valor de mais de 100 mil milhões de dólares, o que corresponde a 91 mil milhões de euros, correspondentes ao ano de 2023. Isto ultrapassa o recorde que tinha sido estabelecido em 2022.
As contas são do Guardian, que avança como explicação os lucros extraordinários ligados à invasão da Ucrânia pela Rússia que fez disparar os preços do petróleo e do gás, nomeadamente na Europa. Ainda assim, os lucros do ano passado serão mais baixos do que os do ano anterior.
Apesar dos seus lucros terem descido face a 2022, altura em que atingiram os 40 mil milhões de dólares, a Shell, por exemplo, anunciou em novembro que pagará aos seus acionistas pelo menos 23 mil milhões de dólares. Dividendos que correspondem a seis vezes superior ao que gastou em energias renováveis em 2023.
O mesmo acontece com a BP que já tinha comunicado, na altura em que anunciou os resultados do segundo trimestre, um aumento de dividendos na ordem de 10% enquanto tinha uma queda nos lucros maior do que a esperada.
BP, Shell, Chevron, ExxonMobil e TotalEnergies, as empresas em causa, têm vindo a ser visadas por processos de luta em defesa da transição energética que chegaram às suas assembleias gerais e conferências de imprensa e alguns dos seus acionistas são pressionados para abandonarem as empresas poluentes. Manter-se neste jogo revela-se, contudo, muito lucrativo.
Especialistas como Alice Harrison, da Global Witness, criticam que “em vez de investir os seus lucros recorde em energia limpa, estas empresas duplicaram os seus investimentos no petróleo, gás e nos investimentos dos seus acionistas”. Ao mesmo tempo, “milhões de famílias não terão meios para aquecer a sua casa este inverno e países inteiros continuarão a sofrer fenómenos meteorológicos extremos”. A economia dos combustíveis, afirma, é “manipulada a favor dos ricos”.
Por seu turno, Dieter Helm, professor de Política Económica na Universidade de Oxford, em declarações ao mesmo jornal, destaca que “estas empresas estão a investir enormes quantias em novos projetos e estão a distribuir dividendos mais avultados porque estão confiantes que vão ter grandes retornos. E, quando olhamos para o estado do nosso atual progresso climático, quem é que pode dizer que estejam erradas?”
Muitas destas empresas estão também envolvidas em processo de recompra das suas ações.
Tudo isto acontece ao mesmo tempo que se confirma que 2023 foi o ano mais quente desde que há registo.