FMI: "Valsa fúnebre sobre a economia portuguesa”

06 de novembro 2010 - 11:48

“FMI tem dado sinais absolutamente contraditórios, desde insinuar a possibilidade da bancarrota da economia e do Estado, até sugerir que é preciso alterar as leis do trabalho”, afirmou Louçã, esta sexta-feira, num comício no Porto.

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O Bloco de Esquerda esteve esta sexta-feira no Porto, no Cinema Batalha, num comício que teve como lema "Exige a tua Vida". Foto Paulete Matos

O Bloco esteve esta sexta-feira no Cinema Batalha, no Porto, num comício também de mobilização para a Greve Geral mas que se centrou nas questões sobre o “Orçamento da Crise” e nas alternativas do Bloco para a recuperação da economia e para “a protecção das pessoas”. Para uma casa cheia, falaram os deputados do Bloco José Soeiro e Francisco Louçã, logo depois de um pequeno teatro satírico sobre os temas do comício.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) “tem feito uma valsa fúnebre sobre a economia portuguesa”, acusou Francisco Louçã, durante a sua intervenção.

Para o Coordenador da Comissão Política do Bloco, “a economia portuguesa tem sido muito atacada por várias instituições, o FMI sendo uma delas” e “qualquer pessoa percebe que a alteração da lei laboral para facilitar os despedimentos não tem qualquer efeito na reanimação económica”.

“A solução é reduzir o endividamento, aumentar a substituição de importações, para evitar que tenhamos um défice comercial nos alimentos ou tecnologia, é melhorar o grau de auto-satisfação das necessidades financeiras, evitando recorrer a financiamento para alimentar uma expansão do crédito à habitação”, enumerou Louçã. Estas, acrescentou, “são medidas concretas que são precisas, e nenhuma delas tem a ver com aumentar o desemprego, baixar os salários ou facilitar o despedimento colectivo”.

Francisco Louçã lembrou que em Portugal já existe “uma bancarrota das famílias” e “problemas sociais gravíssimos, que vão piorar no próximo ano”, acreditando que o país caminha para uma recessão. “Acho que não há dúvida nenhuma. As instituições internacionais apontam para isso”, frisou.

No contexto do Orçamento do Estado, o Bloco vai apresentar, por isso, “medidas para a criação de emprego, para responder a estas dificuldades e para mostrar onde podia haver mais receitas e mais compensação fiscal para evitar o peso exterior”.

Quanto ao pedido de reembolso de 40 milhões de euros da Comissão Europeia, Louçã admitiu ter ficado “muito surpreendido” com a notícia, aguardando agora pelas explicações do Executivo. “O Governo terá que nos explicar se vai contestar essa proposta e se esta tem algum fundamento ou não”, assinalou.

Bancos nacionais são responsáveis pela subida dos juros da dívida pública

Francisco Louçã acusou os bancos nacionais de serem os responsáveis pela subida dos juros da dívida pública e de especularem contra o próprio Estado. “A subida dos juros da dívida pública portuguesa é pressionada pelos bancos portugueses, que com isso conseguem uma vantagem cada vez maior”, afirmou.

Para Louçã, “o problema é que em Portugal os maiores compradores de títulos da dívida portuguesa são bancos nacionais”, assegurando que “houve uma emissão, há pouco tempo, de 750 milhões de euros que foi totalmente comprada por bancos portugueses”. “O Estado nunca nos diz exactamente quem são os compradores em cada uma delas, há um sigilo sobre isso, mas tenho a certeza que os grandes portugueses estão a ser dos maiores compradores da dívida pública”, sublinhou.

Louçã acrescentou que são os responsáveis dos principais bancos, como Ricardo Salgado, Carlos Santos Ferreira e Fernando Ulrich, quem pede “empréstimos de curto prazo ao BCE [Banco Central Europeu], a um por cento” e depois reciclam “esse dinheiro comprando títulos do seu próprio país a quase sete por cento”. 

"Estamos a dar-lhes condições para poderem pedir ao BCE um financiamento que o Estado português não pode ter, mas eles podem e têm, e com esse dinheiro especulam contra o seu próprio país", sublinhou ainda.