Legislativas em França: Esquerda desafia o macronismo

A coligação de esquerda e o seu projeto de rutura com o liberalismo esteve no centro das legislativas francesas. Do outro lado, Macron promete um liberalismo ainda mais feroz em nome da estabilidade e Marine Le Pen perdeu protagonismo mas a extrema-direita continua à espreita de oportunidades. Dossier organizado por Carlos Carujo.

11 de June 2022 - 12:13
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Poucas semanas após a reeleição de Emmanuel Macron nas presidenciais, o eleitorado francês regressa às urnas a 12 e 19 de junho para escolher os membros do Parlamento. Ao contrário do que acontece em Portugal, o sistema eleitoral francês tem 577 círculos  que elegem um único representante. Se alguém alcançar mais de 50% dos votos fica eleito à primeira volta, caso contrário passam à segunda volta os candidatos que obtenham mais de 12,5% dos votos os eleitores inscritos.

Foi Jean-Luc Mélenchon quem protagonizou a campanha eleitoral para as legislativas em França. Imediatamente depois de ser conhecido o desfecho da segunda volta das presidenciais em que não participava, subiu ao púlpito para anunciar que nessa noite começava a “terceira volta” das eleições. O líder da França Insubmissa roubou o palco ao anunciar que apontava para o lugar de primeiro-ministro do país e ao desencadear um processo unitário à esquerda.

Assim nasceu a NUPES, Nova União Popular Ecológica e Social, juntando “insubmissos”, comunistas, socialistas e ecologistas. E foi sobretudo dela se falou ao longo de toda a campanha. O Esquerda.net seguiu esse percurso. Analisando como foi construída e as suas razões, contextualizando com Laurent Lévy o seu enquadramento numa longa história de encontros e desencontros dos partidos mais votados da esquerda francesa, olhando para o seu programa, dando voz ao próprio Mélenchon para se explicar, numa campanha em que afirmava querer nada mais nada menos do que “mudar a orientação geral da vida em sociedade”.

Neste dossier, com Patrick Le Moal, regressamos à análise do programa da NUPES para melhor entender o fenómeno e, com Stefano Palombarini, aprofundamos a questão das possibilidades de afirmação desta “esquerda de rutura” que desafia a liberalização que tem dominado há muito a política francesa.

Olhamos ainda para os outros dois blocos mais importantes: o centrão liberal do atual presidente Macron e a extrema-direita da veterana Marine Le Pen. Olivier Guyottot disseca as diferenças estratégicas dos três principais contendores, nomeadamente, a “escolha crucial” da nova primeira-ministra nas vésperas das eleições.

Macron, que esteve meio desaparecido de toda a campanha, regressou na ponta final da campanha para estigmatizar os dois adversários como extremistas que trariam a crise. A “estabilidade” que ele promete, mostra-nos Myriam Martin, é a do recuo social. Também passadista e com dificuldade em mostrar que não foi ultrapassada, Marine Le Pen fez campanha com os temas de sempre da extrema-direita, continuou a tentar “desdiabolizá-la” e juntou-se ao coro mediático e político que tratou de diabolizar a NUPES, como nos conta Carlos Carujo.

Jean-François Deluchey destaca que a extrema-direita fica de fora de uma alternativa em que ou se inicia “um novo ciclo sócio-político e uma refundação profunda das instituições francesas e do seu papel no cenário internacional” com Mélenchon, ou o projeto antipopular de Macron poderá resultar numa situação que fique “rapidamente insustentável socialmente”.

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