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Proibir jatos particulares para combater emissões obscenas dos mais ricos

Estudo revela que, desde janeiro, 21 celebridades emitiram uma média de 3.376,64 toneladas de emissões de CO2 com os seus jatos particulares. Ativista do Labour for a Green Deal escreve que jatos privados “são símbolos grotescos de riqueza plutocrática e grandes impulsionadores da crise climática” e defende a sua proibição.
Foto CC-BY-SA 4.0 Matti Blume

Os efeitos da crise climática fazem-se sentir um pouco por todo o mundo, e têm impactos mais devastadores nos países de menor rendimento, aqueles que menos contribuem para este flagelo. Mesmo o próprio território europeu está a ser afetado por uma seca severa e incêndios florestais de enormes proporções.

Perante a necessidade premente de combater a crise climática, e face aos preços crescentes da energia e do petróleo, a inflação galopante, o declínio dos salários reais e as gritantes fragilidades de um sistema de transporte cronicamente subfinanciado, a forma como viajamos ganha particular relevo.

Mas essa não será uma preocupação que afeta a todos da mesma forma.

No final de julho, a Yard publicou uma lista das dez celebridades com as piores emissões de dióxido de carbono (CO2) desde o início de 2022 com base na frequência com que utilizam o seu jato particular. A empresa de marketing digital explicou que o objetivo deste estudo é destacar o impacto prejudicial e desproporcional deste tipo de transporte no meio ambiente. E assinalou que esta é uma opção “particularmente popular entre as celebridades, que, muitas vezes, optam por voos incrivelmente curtos em vez de escolher uma alternativa mais ecológica”.

O estudo da Yard, cujos dados foram extraídos da conta de Twitter da Celebrity Jets, revelam que as 21 celebridades visadas emitiram uma média de 3.376,64 toneladas de emissões de CO2 apenas na utilização dos seus jatos particulares. Ou seja, 482,37 vezes mais do que as emissões anuais da pessoa média, de 7 toneladas de CO2. Os tempos médios de voo chegaram a apenas 71,77 minutos, com uma média de 66,92 milhas percorridas por voo. Alguns dos maiores infratores incluem Taylor Swift, Jay-Z, Kim Kardashian e Travis Scott.

Já no início deste ano, a Exame noticiava que a pandemia “fez a procura por jatos particulares disparar, e nem crises económicas, guerra e preço dos combustíveis parecem travar o setor”.

De acordo com o Eurocontrol, o organismo de vigilância do tráfego aéreo, os voos para negócios duplicaram em relação a 2019 e representaram 12% do transporte aéreo em 2021.

"A aviação privada, em seu conjunto, viveu um aumento incrível da demanda", confirmou à AFP Phillippe Scalabrini, diretor para o sul da Europa da empresa VistaJet. 

“Símbolos grotescos de riqueza plutocrática e grandes impulsionadores da crise climática”

Num artigo publicado na Jacobin, Ben Davies escreve que os jatos privados “são símbolos grotescos de riqueza plutocrática e grandes impulsionadores da crise climática”. O ativista do Labour for a Green Deal defende a sua proibição.

“Os jatos particulares em geral são notoriamente destrutivos para o meio ambiente, emitindo em média até quatorze vezes mais CO2 do que os aviões comerciais, eles próprios a segunda forma de transporte individual mais poluente disponível”, avança Ben Davies.

O ativista alerta que, “a longo prazo, as coisas provavelmente irão mais longe, à medida que mais demagogos bilionários como Elon Musk e Jeff Bezos olharem para o espaço sideral, em vez de apenas para o céu doméstico, para se divertir, com as emissões de um único voo espacial bilionário a exceder as emissões vitalícias” de alguém entre os mais pobres do mundo.

Para Davies “tentar suavemente persuadir a indústria da aviação a reduzir voluntariamente as emissões até 2030”, como Biden tentou nos Estados Unidos, “não é o suficiente”.

“O movimento de dedo dirigido às empresas de combustíveis fósseis na esperança de envergonhá-las para a descarbonização provou repetidamente sem sentido quando comparado aos lucros recordes”, refere.

O ativista defende uma “regulamentação direta que proíba viagens de jatos particulares hiperpoluentes”, a par de “uma mudança modal para o transporte público de baixo e zero carbono, universalmente acessível e gratuito para todos”.

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