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Polícias europeias foram racistas no confinamento, conclui Amnistia

A Amnistia Internacional denuncia que as polícias de vários países europeus foram discriminatórias contra minorias étnicas e grupos marginalizados, usaram de violência desnecessária e excessiva e, nalguns países, foram usadas quarentenas contra comunidades.
“As autoridades devem abordar as preocupações sobre racismo institucional, preconceito racial e discriminação dentro da polícia que caraterizaram a sua resposta à pandemia da covid-19”, destaca a AI no relatório
“As autoridades devem abordar as preocupações sobre racismo institucional, preconceito racial e discriminação dentro da polícia que caraterizaram a sua resposta à pandemia da covid-19”, destaca a AI no relatório

A Amnistia Internacional (AI) divulgou esta quarta-feira, 24 de junho, o relatório Policing the pandemic (“Policiamento da pandemia”), que abrange 12 países: Bélgica, Bulgária, Chipre, Eslováquia, Espanha, França, Grécia, Hungria, Itália, Sérvia, Reino Unido e Roménia.

A organização sublinha que o relatório expõe um padrão perturbador de preconceito racial, ligado a racismo institucional dentro das forças policiais e outras questões que têm sido levantadas pelos protestos do movimento Black Lives Matter.

Marco Perolini, investigador da AI, afirma que “a violência policial e as preocupações com o racismo institucional não são novas, mas a pandemia de COVID-19 e a aplicação coerciva das regras de confinamento demonstram o quão prevalentes são”.

Perseguição racial

O relatório exemplifica a discriminação contra minorias étnicas com uma situação em França, o caso de Seine-Saint-Denis, departamento francês situado na região Île-de-France mas que é a zona mais pobre da França continental e onde a maioria da população é negra ou tem origem norte-africana.

Em Seine-Saint-Denis, foram aplicadas três vezes mais multas por violação do confinamento do que no resto da França, afirma a AI, que denuncia também que em Nice, igualmente em França, num bairro onde moram sobretudo pessoas de minorias étnicas e da classe trabalhadora, foram impostas recolhas mais longas do que no resto da cidade.

Em Inglaterra, a polícia de Londres aumentou as operações de controlo em 22%, tendo a revista de pessoas negras aumentado quase um terço.

Violência ilegal e excessiva

A AI analisou 34 vídeos de atuações policiais de toda a Europa. Vídeos provam excessos policiais em Bilbau e em Île-Saint-Denis em França, neste caso o racismo policial é manifestamente comprovado.

“A tripla ameaça da discriminação, do uso ilegal de força e da impunidade policial deve ser urgentemente combatida”, sublinha Marco Perolini.

Quarentenas de Comunidades Ciganas

Numa manifestação de clara discriminação, os governos da Bulgária e da Eslováquia impuseram quarentenas obrigatórias contra assentamentos de comunidades ciganas e, no caso da Eslováquia, foi mesmo mobilizado o exército para impor a quarentena. Na Bulgária, mais de 50 mil pessoas ciganas foram isoladas, numa cidade foram usados drones com sensores térmicos para medir remotamente a temperatura dos residentes e monitorizar os movimentos e noutra cidade, onde se verificou um surto, as autoridades usaram aviões para “desinfetar” a zona.

“O Estado deve parar de impor quarentenas discriminatórias e expulsar à força as comunidades ciganas”, afirma Barbora Černušáková, investigadora da AI.

Quarentenas contra campos de refugiados e migrantes

A Amnistia denuncia que existiram quarentenas seletivas contra campos e alojamentos de refugiados, requerentes de asilo e migrantes na Alemanha, em Chipre e na Sérvia. Houve ainda desalojamentos forçados na França e na Grécia.

Punição de pessoas sem-abrigo

Em Itália, França, Espanha e Reino Unido, pessoas sem-abrigo foram multadas por não conseguirem cumprir medidas de isolamento e restrição de movimentos. Em Itália,

Barbora Černušáková afirma: “As autoridades devem abordar as preocupações sobre racismo institucional, preconceito racial e discriminação dentro da polícia que caraterizaram a sua resposta à pandemia da covid-19”. “Chegou a hora de estas práticas acabarem e a Europa enfrentar o racismo dentro de portas”, apela.

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