Desde a passada quarta-feira houve três naufrágios ao largo das ilhas gregas. Este sábado, as autoridades marítimas gregas ainda fazem buscas de salvamento depois de mais um desastre no mar Egeu que elevou o número de mortes para, pelo menos, 30.
Foi na passada sexta-feira, perto da ilha de Paros, que uma embarcação com cerca de 80 pessoas naufragou. Foram recuperados sem vida os corpos de 16 migrantes, 12 homens, três mulheres e um bebé, e resgatadas outras 63 pessoas.
Na quinta-feira passada, tinham sido encontrados onze mortos depois do naufrágio de um barco com cerca de uma centena de pessoas a bordo ao norte da ilha de Anticítera. Cerca de 90 pessoas, 27 das quais crianças, foram salvas.
E na quarta-feira, um bote insuflável virou-se ao largo da ilha de Folegandros, tendo morrido, pelo menos três pessoas, e sido resgatadas 13, identificadas como sendo de nacionalidade iraquiana, síria e egípcia.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados calculou esta semana que este ano, apenas até ao mês de novembro, mais de 2.500 pessoas morreram ou desapareceram no mar em tentativas de chegar à Europa.
Teme-se que a situação no Afeganistão aumente o número de tentativas de travessia numa altura em que as condições climatéricas e do mar são propensas aos desastres. O ministro dos Assuntos Marítimos da Grécia, Ioánnis Plakiotákis, culpa a Turquia pela situação porque esta estará a “deixar os traficantes de seres humanos agir com toda a impunidade”. Segundo este governante, a atividade destes traficantes “está a intensificar-se”, explorando cada vez mais pessoas e transportando-as “sem coletes de salvamento, em barcos que não respondem às mínimas normas de segurança”.
Entretanto, Itália autorizou o desembarque de dois navios de salvamento de organizações humanitárias, o Sea-Eye 4 e Ocean Viking. O primeiro transportava 214 pessoas resgatadas do mar e já chegou ao porto de Pozzallo, na Sicília. Nove outras, que tinham estado a bordo, tinham sido já retiradas da embarcação por razões médicas. O segundo, fretado pelo SOS Mediterrâneo em conjunto com a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, tem 114, entre as quais dois recém-nascidos, mas ainda não chegou a Trapani. Fica por resolver ainda o caso do Geo Barent, aquele que tem atualmente mais pessoas, 458, e que é operado pelos Médicos Sem Fronteiras.
“A maior ameaça aos direitos humanos são os Estados”
No mar continua o Sea Watch 3 que anunciou este sábado ter feito o quarto resgate nas últimas 30 horas. Neste último salvaram 78 pessoas que estavam num bote de borracha que se encontrava em dificuldades. Elevaram-se assim para 350 os migrantes a bordo do navio de momento.
Entretanto, a organização recebeu uma notícia positiva. Depois da perseguição judicial movida pelas autoridades italianas na época em que Salvini ocupava a pasta de ministro do Interior, a justiça deste país decidiu abandonar as acusações contra a tripulação do Sea Watch 3 por suposto tráfico de seres humanos e por resistência à ação de um navio das autoridades italianas.
Em junho de 2019, Carola Rackete, a sua capitã, tinha ficado conhecida ao ser presa no porto de Lampedusa num barco com 42 migrante cuja vida ajudara a salvar. A juíza Micaela Raimondo passou a reconhecer que “Carola Rackete agiu no cumprimento do dever de salvamento previsto no direito nacional e internacional do mar”.
Here is my reaction to the final closure of investigations against me and @seawatch_intl
The biggest threat to human rights are the states and their authorities bc they hold so much power. We must watch them closely and challenge them whenever they commit injustices. pic.twitter.com/n8D4IJS6sw
— Carola Rackete (@CaroRackete) December 23, 2021
Por sua vez, a bióloga e ativista reagiu ao fim do caso afirmando, na sua conta de Twitter, que “a maior ameaça aos direitos humanos são os Estados e as suas autoridades porque detêm tanto poder. Devemos vigiá-los de perto e desafiá-los quando cometam injustiças”.
Acrescenta ainda que: “no decorrer dos últimos anos, a União Europeia e os seus Estados-Membros gastaram milhões para militarizar a fronteira” e que a Frontex, agência europeia de proteção das fronteiras “é cúmplice do do regresso forçado de milhares de pessoas vítimas de graves violações dos direitos humanos na Líbia”, para além dos pushbacks, ou seja do ato ilegal de empurrar migrantes sem qualquer procedimento administrativo de volta para as suas proveniências, na Grécia, Croácia e Polónia.