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O negócio milionário das newsletters anti-vacinas

A plataforma Substack está a lucrar milhões ao permitir a divulgação de mentiras anti-vacinas. Os seus criadores ganham ainda mais. Algumas das figuras do movimento anti-vaxx têm assim uma tribuna onde “podem alimentar diretamente os seus assinantes com mentiras” diz o Centro Contra o Ódio Digital.
Pormenor da capa de um relatório da CCDH.
Pormenor da capa de um relatório da CCDH.

O Centro Contra o Ódio Digital, CCDH, revelou que o negócio das newsletters anti-vacinas na plataforma Substack, que permite criar boletins “informativos” e enviá-los a grandes quantidades de pessoas, está a faturar, em média, perto de 2,5 milhões de dólares por ano. Desses, 10% ficam nos bolsos da empresa que disponibiliza o serviço e 90% vai para os autores.

Esta organização não governamental mostra o caso de dois conhecidos intoxicadores com propaganda anti-vacinas, Joseph Mercola e Alex Berenson, que ganharão cerca 183.000 dólares por mês. Mercola é um osteopata que foi considerado pelo New York Times como o mais influente divulgador de desinformação sobre o coronavírus em 2021. Alega ter dezenas de milhares de membros pagos para aceder ao que chama à sua “biblioteca censurada” de artigos. Tem publicado na newsletter Take Control of Your Health coisas como “mais crianças morreram por causa da vacina da Covid do que devido à Covid”. Cada subscrição anual custa perto de 50 dólares.

Berenson, que chegou a escrever para esse mesmo jornal, foi banido do Twitter em agosto por espalhar mentiras acerca das vacinas. É autor de alegações como a de que as vacinas mRNA não param mas, pelo contrário, contribuem para o aumento da pandemia. A subscrição da newsletter Unreported Truths custa 60 dólares por ano.

A Substack tornou-se uma das maiores plataformas de divulgação de newsletters em língua inglesa. A empresa não controla o conteúdo publicado, o que permite que os criadores façam passar como informação o que não o é. Defende-se com a “liberdade de expressão”. Das suas linhas orientadoras consta a proibição de atividades “danosas”, mas estas não são especificadas. Segundo o CCDH, no top das maiores newsletters na categoria “política” constam a de Berenson, em sexto lugar, e a de Mercola, em 13º.

Nas contas desta ONG, uma newsletter com dois mil subscritores pode lucrar perto de 87 mil euros por ano, uma com 20 mil subscritores cerca 887 mil euros. Haverá as que chegam a 4,4 milhões de euros. Este meio de divulgação é considerado mais perigoso até do que as publicações nas redes sociais.

Ao Público, Imran Ahmed, presidente executivo do CCDH, diz que, desta forma, “os anti-vaxxers podem alimentar diretamente os seus assinantes com mentiras. Como se trata de uma conversa de sentido único, sem a possibilidade de qualquer intervenção do público ou verificação de factos, é mais fácil pregar disparates a audiências privadas”. Para ele, “lucrar com a difusão de mentiras sobre uma vacina que está a salvar milhões de pessoas de doenças graves e da morte é moralmente inconcebível e custa vidas”.

O CCDH já tinha denunciado antes que as grandes redes sociais continuam a ganhar milhões (calcula-se que 1,1 mil milhões) com a desinformação acerca das vacinas que tinham prometido combater. E tinha identificado os principais criadores de mentiras daquilo a que chama a “indústria anti-vaxx” que continuarão a ter 62 milhões de seguidores apenas nas principais plataformas.

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