You are here

Na Síria usam-se armas químicas mas “Portugal não comenta”

O fundador do Observatório Sírio dos Direitos Humanos pede que os ocidentais “equilibrem um pouco a pressão e deem à Síria nem que seja apenas 10% da atenção que estão a dar à Ucrânia”. Este grupo contabiliza mais de 300.000 mortes, 14 milhões de deslocados e 40 casos de uso de armas químicas confirmados nesta guerra.
Foto do Observatório Sírio dos Direitos Humanos.

Em entrevista à Lusa, Fadel Abdul Ghany, fundador do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, lamenta que o governo português não tenha tomado, nos últimos anos, qualquer posição sobre as violações dos direitos humanos cometidas na Síria.

Considerando que “Portugal é um dos principais países democráticos que defende os direitos humanos”, o responsável deste grupo questiona: “porque é que ainda não fez qualquer comentário, um simples ‘tweet’ sobre a Síria nos últimos anos? Ouvimos preocupações da França e de outros países. Porque é que Portugal não comenta?”

Salientando que “uma declaração que demora poucos minutos, com poucas linhas, a condenar o regime sírio” significaria “muito para os sírios, pois demonstra que Portugal se preocupa com o sofrimento do povo sírio, que acompanha a evolução dos acontecimentos, que apoia a causa (dos direitos humanos), que está contra a ditadura e que está contra o uso de armas químicas”, manifesta a sua tristeza e frustração.

Nesta entrevista, Ghany reconhece ainda que, apesar de outros países europeus terem tomado recentemente posição sobre a guerra na Síria, o problema é transversal. Até porque a guerra na Ucrânia “é mais importante para a Europa” e a questão “não está na agenda” do governo dos EUA mas pede “que equilibrem um pouco a pressão e deem à Síria nem que seja apenas 10% da atenção que estão a dar à Ucrânia”.

O dirigente do Observatório Sírio dos Direitos Humanos insiste o governo do seu país “comete crimes contra a humanidade”, é apoiado pelo Irão e a Rússia nisso e também o grupo russo de mercenários Wagner atua no país “o que torna a situação ainda pior”. Este “tem cometido crimes na Síria e esses crimes estão documentados por nós”.

Enquanto as atenções ocidentais estão desviadas para a invasão da Ucrânia, isso não significa que a situação síria seja menos grave. Pelo contrário, defende, “a situação está a piorar. Apesar de parecer que o grau de violência é menor, há a perceção de que as detenções são hoje menos do que em 2021 ou mesmo 2020, ou que os bombardeamentos também pareçam ser menos. Isso não é verdade. Os números (de vítimas) são cada vez maiores e a situação está a deteriorar-se”. Estes “são os mais graves do mundo”: “os de mortes são dos maiores, os relacionados com tortura são dos maiores, os deslocados são os maiores, mais de metade da população”.

A OSDH contabiliza mais de 300.000 mortes e 14 milhões de deslocados. Refere que há 40 casos de uso de armas químicas confirmados. Os investigadores da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW) divulgaram do dia 27 de janeiro um relatório em que dizem ter descoberto “vestígios suficientes” de uso de gás cloro contra a cidade de Duma em abril de 2018, vitimando 43 pessoas. O mesmo organismo já tinha confirmado o uso de armas químicas pelo regime sírio em três ataques em Latamneh, em março de 2017, e noutro em Saraqeb, em fevereiro de 2018.

Termos relacionados Internacional
(...)