A estimativa divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmou a maior queda da economia portuguesa na sua história democrática: o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 7,6% em 2020, ano que ficou marcado pela pandemia e pelo confinamento que afetaram vários setores de atividade. A contração é bastante superior à registada em 2012, em pleno programa de austeridade da troika (nesse ano, o PIB caiu 4,1%).
Embora a economia portuguesa tenha registado um ténue crescimento no 4º trimestre do ano passado (à volta dos 0,4%), este não foi suficiente para contrariar o pior desempenho anual do PIB registado na série de Contas Anuais do INE. Não se pode dizer que o resultado seja inesperado, uma vez que as medidas adotadas para combater a pandemia levaram a uma contração substancial do consumo dos agregados familiares, bem como à diminuição de uma das principais fontes de rendimento do país nos anos anteriores – o turismo.
No relatório do INE, pode ler-se que “a procura interna apresentou um expressivo contributo negativo para a variação anual do PIB, após ter sido positivo em 2019, devido, sobretudo, à contração do consumo privado”, o que se deve, em parte, às restrições impostas ao funcionamento dos estabelecimentos comerciais e de restauração, e também à quebra de rendimentos que ocorreu neste período. Esta tendência pode, ainda, espelhar a insuficiência dos apoios do Estado às famílias ao longo do último ano. Recorde-se que, apesar de Portugal ser o país da União Europeia onde a quebra salarial resultante da pandemia foi maior, os dados da execução orçamental de 2020 mostram que o Governo gastou menos do que o orçamentado em diversos apoios sociais.
Despesa com apoios sociais ficou aquém do orçamentado. Gráfico publicado pelo Jornal de Negócios a 01.02.2021.
O relatório do INE refere ainda que “o contributo da procura externa líquida foi mais negativo em 2020, verificando-se reduções intensas das exportações e importações de bens e de serviços, com destaque particular para a diminuição sem precedente das exportações de turismo.”
Ainda assim, é importante notar que a quebra histórica do PIB é menor do que chegou a ser estimado anteriormente: o Governo tinha apontado para uma quebra de 8,5%, a Comissão Europeia estimava uma contração de 9,3% e o Fundo Monetário Internacional (FMI) ia mais longe e previa uma queda de 10%. É de esperar, no entanto, que as novas medidas de confinamento adotadas no início deste ano tenham repercussões na atividade económica e voltem a enviar a evolução do PIB para valores negativos.