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Macron nomeia o “senhor desconfinamento” para chefiar governo

Na sequência da derrota nas municipais, o presidente francês escolheu para novo primeiro-ministro Jean Castex, antigo adjunto de Sarkozy na presidência. Oposição de esquerda diz que a escolha sublinha continuidade das políticas de direita do governo.
Jean Castex
Jean Castex. Foto Gonzalo Fuentes/EPA

A noite de domingo foi amarga para o partido criado por Emmanuel Macron, o La République en Marche (LREM). A falta de base autárquica e o descontentamento com as promessas falhadas do presidente francês já tinham feito o LREM baixar a fasquia do objetivo para a eleição de dez mil autarcas, num universo de meio milhão de eleitos. E a estratégia de alianças do partido, que deu prioridade aos candidatos da direita na segunda volta, acabou destroçada pela “vaga verde” que conquistou os principais municípios em disputa.

Não surpreende por isso que Macron tenha optado por remodelar rapidamente o governo, mesmo que isso implicasse sacrificar o protagonista da sua única vitória de domingo, o primeiro-ministro Édouard Phillipe, confortavelmente reeleito no Havre e com uma taxa de aprovação nas sondagens superior à do presidente.

Para o cargo de primeiro-ministro entra agora Jean Castex, mais conhecido por “senhor desconfinamento” nos media franceses, por causa da tarefa de coordenar a estratégia de voltar a reabrir a economia francesa após o pico da pandemia.

Alto funcionário do Estado francês, Castex não é um desconhecido na política e em particular na direita francesa, tendo ocupado vários cargos partidários na UMP e nos Republicanos, partido do qual anunciou a demissão esta sexta-feira. Nas municipais deste ano, foi reeleito à primeira volta como edil de Prades, ou Prada em catalão, uma pequena vila nos Pirinéus. Durante a presidência de Sarkozy fez parte da equipa do Eliseu como secretário-geral adjunto, trabalhando de perto com Xavier Muscat, o braço direito do então Presidente.

Jean Castex passou também pelo Tribunal de Contas como conselheiro e dirigiu o departamento de hospitalização e organização de cuidados de saúde. O portal de notícias francês Mediapart apelida-o como um dos pais do modelo de financiamento das instituições de saúde francesa que resultou da reforma de 2007 e que é em parte responsável pela situação atual de crise nos hospitais franceses. Nessa altura já era chefe de gabinete do ministro da Saúde Xavier Bertrand no governo de Villepin, acompanhando-o depois na pasta do Trabalho no governo Fillon.

Para a generalidade dos comentadores e políticos franceses, esta remodelação não irá significar nenhuma mudança em relação ao rumo do macronismo a dois anos do termo do mandato presidencial. Numa entrevista dada na véspera, Macron confirmou que os objetivos traçados em 2017 se mantinham e que o seu plano de reforma das pensões, contestado nas ruas e interrompido pela pandemia, voltará à agenda política mais cedo ou mais tarde.

À esquerda, oposição sublinha continuidade das políticas de direita

Para o secretário nacional do Europa Ecologia - Verdes, Julien Bayou, a nomeação de Castex não é mais do que “o fim de um falso suspense, em que a um homem de direita sucede outro homem de direita, ao qual nunca ninguém ouviu falar de ecologia. O Presidente quer ser o único com visibilidade e em vez de preparar o país para o futuro, prepara a sua candidatura”, acusa Bayou no Twitter.

A eurodeputada da França Insubmissa e co-presidente do GUE/NGL, Manon Aubry, também destaca a continuidade numa nomeação em que “um homem de direita substitui outro homem de direita para fazer a mesma política anti-social e anti-ecológica”. Para Aubry, a única perspetiva que Macron dá ao país é a de “fazer os franceses trabalharem mais e repor em cima da mesa a reforma das pensões”. Numa altura em que o país enfrenta “uma catástrofe social” e vagas de despedimentos em empresa chave como a Renault, Airbus ou Nokia, a escolha de “um primeiro-ministro tecnocrata” e “sarkozista” não combina com a necessária viragem social e ecológica de que a França precisa, conclui Manon Aubry.

No mesmo tom, o primeiro secretário do PS francês reagiu ao anúncio “sem surpresa”. Olivier Faure diz que “o dia seguinte será de direita como a véspera” e envia “saudações republicanas” ao novo primeiro-ministro e ao cessante.

 

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