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Homicídio de Bruno Candé teve motivação racial, acusa MP

As declarações racistas de Evaristo Martinho nos dias antes de assassinar Bruno Candé foram tidas em conta na acusação feita pelo Ministério Público. Candé foi morto na via pública em julho de 2020.
Manifestação em Lisboa em memória de Bruno Candé.
Manifestação em Lisboa em memória de Bruno Candé. Fotografia de Ana Mendes.

“Vai para a tua terra, preto!”, “Tens toda a família na senzala e devias também lá estar”, “Fui à c*** da tua mãe e daquelas pretas todas! Eu violei lá a tua mãe”, “Anda cá que levas com a bengala, preto de merda”. Estas foram algumas das ofensas que Evaristo Martinho dirigiu a Bruno Candé nos dias antes de o assassinar em pleno dia, numa avenida de Moscavide. O Ministério Público de Loures deu como provada a ação com intenção de matar e considerou estas declarações para avançar com a acusação do crime de homicídio qualificado agravado por ódio racial.

No despacho de acusação a que o jornal Público teve acesso,  o Ministério Público nota que o ex-militar da guerra colonial em Angola utilizou expressões nas quais se “referiu em concreto à cor da” pele de Bruno Candé.

O ator Bruno Candé foi assassinado a 25 de julho de 2020, durante o dia, na Avenida de Moscavide, em Lisboa. Segundo relatos de testemunhas, o homicida, Evaristo Martinho, discutia há três dias com o ator, tendo começado por criticar a presença da cadela que este passeava e terminando em insultos racistas. Uma das últimas ameaças terá sido “tenho armas do Ultramar em casa e vou-te matar ”. O homem, na altura com 76 anos, disparou vários tiros e acabou imobilizado por pessoas que assistiram ao homicídio em pleno dia.

Na reação ao ocorrido, a Polícia de Segurança Pública (PSP) tinha indicado que nenhuma das testemunhas relatou motivações racistas. Posteriormente, a Polícia Judiciária afirmou que as testemunhas ouvidas pela PSP tinham sido as que presenciaram o homicídio e não as que escutaram as ofensas nos dias anteriores. Já os familiares de Candé lembraram os antecedentes quanto aos insultos, que consideravam deixar “evidente o carácter premeditado e racista deste crime hediondo”.

Evaristo Martinho encontra-se em prisão preventiva por homicídio qualificado e posse de arma ilegal.

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