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Fuga de gás no Nord Stream: um desastre climático

Enquanto os países ocidentais e a Rússia trocam acusações sobre a origem das fugas de gás dos gasodutos Nord Stream, uma coisa é certa: os efeitos ambientais serão enormes. Estima-se que o gás libertado para a atmosfera seja o equivalente às emissões de CO2 de pelo menos 1,4 milhões de carros por ano.
Fuga de gás no Nord Stream 1. Foto da guarda costeira sueca/EPA/Lusa.
Fuga de gás no Nord Stream 1. Foto da guarda costeira sueca/EPA/Lusa.

Esta quinta-feira, a guarda costeira sueca confirmou a existência de uma quarta fuga de gás nos gasodutos Nord Stream. Soube-se na segunda-feira que as infraestruturas que transportam gás entre a Rússia e a Europa Ocidental tinham sido danificadas em vários pontos no mar Báltico. Contam-se agora duas fugas em águas suecas e outras duas em águas dinamarquesas.

Embora nem o Nord Stream 1 nem o Nord Stream estivessem a ser utilizados, estavam cheios de gás. E, de acordo com as autoridades alemãs, citadas pelo "Der Tagesspiegel", os estragos inviabilizarão que possam voltar a ser usados.

O facto de as fugas poderem ter sido causadas pelas explosões que foram registadas na zona tem levado a uma disputa entre Estados Unidos e União Europeia, por um lado, e Rússia por outro. Do lado da UE, avançou-se com a suspeita de sabotagem e prometeu-se uma resposta “robusta e coesa” face a qualquer “interrupção deliberada da infraestrutura energética europeia”. O Kremlin respondeu que a suspeita é “estúpida e absurda” porque as fugas implicariam perdas económicas para si. E, segundo a Reuters, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, contrapôs que as fugas ocorreram em território que “está plenamente sob controlo dos serviços secretos norte-americanos” porque Dinamarca e Suécia são “países Nato-centricos”. Ambos os lados falam em inquéritos ao sucedidos e, a pedido russo, o Conselho de Segurança das Nações Unidas vai reunir esta sexta-feira para analisar o caso.

Para além do braço de ferro geopolítico estão as pesadas consequências ambientais. Ainda não é conhecida totalmente a dimensão das fugas, podendo variar entre 200.000 a 400.000 mil toneladas de metano. Mas os cientistas dizem que pode ser uma das maiores fugas de gás natural de sempre, o equivalente a um terço das emissões anuais de CO2 de um país como a Dinamarca ou de 1,4 milhões de carros, um número avançado no Twitter pelo climatólogo Zeke Hausfather, que integra o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas. O metano é considerado a segunda maior causa do aquecimento global depois do dióxido de carbono.

À Reuters, Jasmin Cooper, investigadora do Departamento de Engenharia Química do Imperial College de Londres, considera que estas fugas têm “o potencial para serem uma das maiores fugas de gás”, explicando que “os riscos climáticos de uma fuga de metano são enormes. O metano é um gás potente com efeito de estufa, 30 vezes mais forte do que o CO2 num prazo de 100 anos e mais de 80 vezes mais forte num prazo de 20”.

O seu colega Grant Allen, perito em Ciências Ambientais da Universidade de Manchester, acrescenta ao jornal britânico Guardian que se trata de uma “quantidade colossal de gás” o que faz com a natureza não a consiga absorver e, apesar de não ter um efeito poluidor direto tão devastador para o ambiente marinho como um derramamento de petróleo, as consequências sentir-se-ão em termos do efeito de estufa.

Apesar disto, a Greenpeace sublinha que também do ponto de vista da fauna as consequências existem porque os peixes podem ser apanhados por bolhas de gás, causando problemas respiratórios. Para além disso, nas suas contas, o efeito da fuga será bem maior do que outras projeções, atingindo o mesmo valor do que as emissões de 20 milhões de carros por ano. Para a organização ambientalista, trata-se de um “desastre climático” que demonstra que as infraestruturas de combustíveis fósseis são “inerentemente perigosas”, dada a possibilidade não só de atos de sabotagem como de acidentes e até as fugas derivadas das “operações normais de armazenamento de petróleo/gás são altamente sub-declaradas”.

Nas suas declarações à Reuters, David McCabe, especialista em Química Atmosférica e membro da ONG Clean Air Task Force, vai no mesmo sentido e considera mesmo que “o impacto no clima pode ser desastroso e até sem precedentes”.

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