Um terço das construtoras do setor imobiliário na China irão ter problemas de refinanciamento ou pagamento do seu serviço de dívida nos próximos doze meses. A conclusão é de um novo relatório da S&P e parte da tendência de queda profunda de vendas no setor, e da restrição de acesso ao crédito bancário para compra de imóveis no país.
No cenário improvável de a Evergrande ser capaz de gerir as suas obrigações de dívida na próxima sexta-feira, evitando um default desastroso depois de já quase ter falhado o pagamento de 83 milhões de dólares a 23 de outubro, os analistas da S&P consideram que há várias empresas em situação semelhante.
Os indicadores apontam para uma recessão do mercado imobiliário chinês “particularmente intensa”, o que terá efeitos decisivos nos mercados financeiros a nível global.
Apesar de, com 300 mil milhões de dólares de dívida interna e externa, a Evergrande se ter tornado num símbolo de empresas alavancadas, a dívida das empresas chinesas do setor está estimada em cerca de 5 biliões de dólares (trillions no sistema inglês), o que equivale a um terço do PIB chinês.
O setor terá obrigações de dívida de 92 mil milhões de dólares que vencem em 2022. A incerteza quanto à sua capacidade de pagamento aumentou depois de a nova política de Xi Jinping ter cortado o rating destas empresas para o nível B ou mais abaixo. Mais de 50% do portfolio de empresas do setor da S&P estão hoje avaliadas com B- ou B+.
Todos estes fatores conjugados apontam para um ciclo prolongado de risco financeiro e default sistemático de empresas de desenvolvimento imobiliário.
A Kaisa, uma empresa que, tal como a Evergrande, tem uma enorme exposição com pelo menos 12 mil milhões de dólares de dívida externa, foi esta quarta-feira reavaliada para o rating CCC, sendo público que a empresa não tem neste momento acesso a vias de refinanciamento nem capital para cumprir as suas obrigações no início de 2022.
Neste momento, a Evergrande terá de pagar 44 milhões de dólares do seu serviço de dívida até à próxima sexta-feira, e mais 148,1 milhões de dólares a 11 novembro. A falha de qualquer uma das datas significará um default oficial.
As cidades-fantasma da especulação imobiliária na China
A curta-metragem de Romain Gravas gravada para ‘Gosh’, de Jamie xx, foi filmada em Tianducheng, uma cidade “fantasma”, dominada por arranha céus vazios e uma réplica 1:1 da Torre Eiffel e o centro de Paris. As imagens dão uma visão da especulação imobiliária na China. Veja aqui.