"Discurso das associações patronais é hipócrita"

21 de May 2016 - 18:46

A Federação Nacional de Professores (Fenprof) solidarizou-se com o governo na redução de financiamento dos contratos de associação com os colégios e garantiu que irá “apoiar judicialmente” todos os associados que sejam ilegalmente despedidos daquelas escolas.

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Foto de Paulete Matos

Esta tomada de posição surge no seguimento da divulgação da lista de colégios que, no próximo ano letivo, poderão abrir turmas de início de ciclo (5º, 7º e 10º ano) com financiamento estatal: das 79 escolas atualmente com contrato de associação, apenas 40 surgem na lista.

Em comunicado divulgado pela Lusa, a estrutura sindical sublinha que "garantirá (aos docentes) o apoio jurídico indispensável para fazer valer os direitos" que, em situações destas, lhes são garantidos. Desde logo, admitindo "recorrer ao Tribunal de Trabalho", caso se verifique que as "entidades empregadoras estão a aproveitar a situação para provocar despedimentos ilegais" ou a "desrespeitar direitos constituídos".

foi-se acumulando uma duplicação de oferta e, em alguns casos, houve uma transferência de alunos das escolas públicas para o ensino privado com contratos de associação

Segundo a Fenprof, os efeitos da diminuição de turmas em colégios com contrato de associação são o resultado de anos “em que se acumularam ilegalidades e favores apesar das denúncias que foram sendo feitas”.

Registe-se que os contratos de associação com estabelecimentos de ensino particular e cooperativo começaram a ser celebrados na década de 80 e tinham como objetivo suprir as carências da rede de escolas públicas.

No entanto, foi-se acumulando uma duplicação de oferta e, em alguns casos, houve uma transferência de alunos das escolas públicas para o ensino privado com contratos de associação.

As zonas geográficas dos colégios com mais cortes "correspondem às que, em sucessivos levantamentos efetuados pela Fenprof, se verificava a duplicação de financiamento público em claro desrespeito pela lei”, refere a federação sindical.

Situação ilegal e imoral”

“O arrastamento de uma situação ilegal e imoral durante décadas gerou um monstro que se instalou e foi crescendo, não sendo sério o discurso da associação patronal que chama a atenção para os problemas que alegadamente serão agora criados, mas sempre ignorou os que criou ao longo de muitos anos em que, acima de qualquer outra questão, esteve um negócio que rendeu milhões a alguns dos seus associados”, sublinha a Fenprof, acrescentando que "o discurso das associações patronais que falam no despedimento de milhares de docentes é absolutamente hipócrita”.

Lembrando que nos últimos quatro anos foram despedidos mais de dez mil docentes do ensino público e privado, a Fenprof entende que “se essa preocupação existisse ela teria sido manifestada quando medidas de governos anteriores provocaram, então sim, o maior despedimento de sempre de professores em Portugal”.

Entretanto, o ministério da Educação decidiu fazer uma avaliação da rede de escolas e concluiu que "em apenas metade dos casos se justificava continuar a abrir novas turmas, uma vez que nos outros casos havia escolas públicas próximas e com capacidade para receber os alunos".