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Desaire eleitoral aumenta pressão sobre Boris Johnson

A gestão da crise pandémica e os sucessivos escândalos que envolvem o primeiro-ministro britânico inquietam o seu partido, que voltou esta semana a perder um deputado num círculo tradicionalmente conservador.
Boris Jonhson em conferência de imprensa esta semana. Foto Simon Dawson / No 10 Downing Street/Flickr

A eleição intercalar para o deputado do círculo de North Shropshire, uma zona rural do oeste de Inglaterra junto à fronteira com o País de Gales, causou dissabores ao Partido Conservador, que segurara esse assento parlamentar desde a criação do círculo. Desta vez a votação nos tories caiu para metade em relação a 2019 e o lugar na Câmara dos Comuns foi ganho pela candidata dos Liberais Demoratas. É a segunda vez este ano que os Conservadores perdem lugares considerados seguros em eleições intercalares.

E não demorou muito para que figuras de referência dos tories começassem a apontar culpados pela derrota. A começar pelo co-presidente Oliver Dowden, que em declarações à BBC explicou que “os eleitores estavam fartos e deram-nos um grande pontapé. Estavam fartos de uma eleição que foi convocada por causa de acusações de desonestidade; estavam fartos de todo o tipo de histórias que se estão a passar neste momento". As acusações que puseram um ponto final aos 24 anos de mandato de Owen Paterson - que fez parte do governo de David Cameron e foi um defensor do Brexit no referendo - foram de quebra das regras parlamentares sobre lóbis, ao aceitar ser consultor pago de duas empresas e fazer esse trabalho aproveitando o cargo de deputado, seja em reuniões com responsáveis de agências públicas, seja usando o gabinete parlamentar. Boris Johnson começou por tentar apoiar o deputado e deu ordens aos deputados para rejeitarem o relatório que o condenava, mas teve de recuar.

Esta sexta-feira, o prieiro-ministro afirmou compreender porque as pessoas estão zangadas e que aceitava a derrota com humildade. Mas logo em seguida virou o foco contra a comunicação social, dizendo que "as pessoas têm ouvido uma ladainha de coisas sobre política e políticos e coisas que não são sobre eles e sobre o que podemos fazer para tornar a sua vida melhor".

O desaire eleitoral aumenta a pressão sobre Boris Johnson e surge dias depois de uma revolta do seu grupo parlamentar, com mais de 100 deputados a votarem contra o seu “plano B” de restrições por causa da pandemia, deixando o primeiro-ministro nas mãos dos deputados trabalhistas para viabilizar a proposta.

Para além do escândalo em torno do segredo imposto pelo primeiro-ministro acerca da identidade do financiador das obras de remodelação do seu apartamento ou das suas férias de luxo em Marbella, a insatisfação popular também tem aumentado à medida que são reveladas as festas e convívios em que Boris Johnson e outros dirigentes conservadores participaram durante o confinamento. Além de notícias sobre uma festa de Natal no ano passado em Downing Street, surgiram também fotografias de dezenas de pessoas numa festa na sede do partido, organizada pela campanha autárquica londrina de Shaun Bailey, que se demitiu da Assembleia de Londres na sequência do escândalo. Além da festa na residência do primeiro-ministro, a Scotland Yard diz estar também a investigar outro convívio do final do ano passado no Ministério da Educação. Também o Ministério dos Transportes veio pedir desculpa na sequência da revelação de uma festa do staff ministerial também em dezembro passado, no mesmo dia em que Londres entrava no regime de maiores restrições à circulação e ajuntamentos.

Já esta semana surgiu a notícia de outra festa no nº 10 de Downing Street, realizada durante o confinamento de maio de 2020, em que Boris Johnson esteve presente. Na altura, as regras só permitiam a duas pessoas de agregados diferentes estarem juntas ao ar livre com 2 metros de distância. No mesmo dia, o então ministro da Saúde tinha apelado às pessoas para ficarem em casa tanto quanto fosse possível e obedecerem às regras. Nesta festa, Johnson disse a um assessor que a equipa merecia uma bebida por ter derrotado o coronavírus. E entre muito vinho e pizzas, o convívio com pelo menos 20 pessoas prolongou-se noite fora.

Entretanto, o número de casos de covid-19 não pára de crescer e esta quinta-feira bateu o recorde de novos casos pelo segundo dia consecutivo desde o início da pandemia, com a variante Ómicron a ganhar terreno muito depressa. Apesar dos apelos de um grupo de cientistas para um novo confinamento, o Governo britânico tem resistido e limita-se a apelar às pessoas para se resguardarem tanto quanto possível. As mensagens contraditórias por parte dos responsáveis políticos têm feito aumentar tanto a sensação de incerteza como a de insatisfação entre os britânicos.

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