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Cresce a mobilização em França contra a reforma das pensões

Em mais um dia de luta contra a proposta do aumento da idade da reforma para os 64 anos, os números de sindicatos e polícia confirmam que a participação nas manifestações de protesto superou as do dia 19 de janeiro, aumentando a pressão sobre o governo e Macron.
Manifestação em Montpellier na manhã de terça-feira. Foto Guillaume Horcajuelo/EPA

Depois de a mobilização de 19 de janeiro ter levado às ruas entre um a dois milhões de franceses contra a reforma das pensões proposta por Macron e pelo governo de Elisabeth Borne, que pretende subir a idade de reforma para os 64 anos, esta terça-feira os sindicatos voltaram à greve e às manifestações.

"Se a primeira-ministra não ouviu a mensagem, hoje vamos repeti-la mais alto, mais forte e em maior número", prometeu o líder da CGT, Phillipe Martinez. E nas manifestações da manhã, mesmo a contagem feita pela polícia apontava para maior participação em relação às do dia 19. A mesma leitura fez Laurent Berger, da CFDT, que ao fim da manhã afirmava que a mobilização tinha juntado mais gente que a anterior por todo o país. "O que esperamos agora é que o governo reabra o dossier e renuncie aos 64 anos e se volte a sentar à mesa porque há uma rejeição massiva da sua reforma. É preciso que oiça", afirmou o dirigente sindical.

Em Paris, a manifestação arrancou ao início da tarde e a CGT estimou a presença de meio milhão de pessoas, acima dos 400 mil que tinha anunciado na manifestação de 19 de janeiro.

Ao todo estão previstas 250 manifestações em todo o país, além da greve que conta com forte adesão nos transportes públicos, e uma adesão de 55% nas escolas secundária, segundo o principal sindicato SNES-FSU. Nas refinarias da TotalEnergies, a CGT aponta uma adesão entre os 75% e os 100%.

Mélenchon: "Façamos o povo francês votar"

Em Marselha, onde a CGT contou 205 mil manifestantes - mais do que os 145 mil de dia 19 - o líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, afirmou que "este dia é um dia muito especial. Não é frequente vermos uma tal mobilização em massa ao apelo dos sindicatos. Haverá um antes e um depois. Hoje, entramos numa nova fase".

O candidato mais votado á esquerda nas últimas presidenciais francesas aproveitou para saudar as "novas formas de luta" encontradas por alguns sindicatos, como a do fornecimento gratuito de eletricidade, considerando-as "uma forma de insurreição cidadã da massa do nosso povo" face a uma reforma "que ninguém quer". Estas ações dos chamados "Robins dos Bosques da energia" continuaram esta semana, com a CGT Minas e Energia a anunciar uma "operação sociedade energética" que cortou a eletricidade a quatro radares de trãnsito no departamento de Lot-et-Garonne, no sudoeste do país, e a substituição de cartões SIM de 170 concentradores que impediu a comunicação das leituras dos contadores Linky.

"O Sr. Macron tem a certeza de que vai perder. Tudo o que ele está a fazer é fazer-nos perder tempo, energia e dinheiro", prosseguiu Mélenchon, insistindo na proposta de um referendo a esta reforma das pensões e desafiando os partidos da oposição a apoia-la. "Temos uma saída pacífica e democrática: façamos o povo francês votar", concluiu.

"Esta reforma vai na contramão da História"

Entre os manifestantes marselheses ouvidos pelo Le Monde, muitos não participavam em iniciativas destas há décadas ou marcaram presença pela primeira vez. É o caso de Michaël Reuge, com 54 anos e trabalhador de serviços notariais. Diz que "esta reforma vai na contramão da História. Há cada vez menos trabalho e empregos que fazem cada vez menos sentido... Dizem-nos que temos de nos alinhar com os outros países europeus, mas não concordo com essa análise. Estamos a seguir as más ideias com um tempo de atraso". à mesma hora, no nordeste de França, perto da fronteira alemã, centenas de pessoas saíram á rua e uma delas, Véronique Haefflinger, com 58 anos, não o fez por ela, pois já se reformou do ensino. "A última reforma das pensões fez-me perder 9% com a penalização, apesar de ter 40 anos de descontos. Esta reforma é ainda mais injusta: O serviço público está em frangalhos e não reflete a imagem da França do Iluminismo", afirmou a antiga professora ao mesmo jornal.  

A mobilização incluiu também os estudantes, com muitos liceus ocupados ou com piquetes de greve. Em Paris a faculdade Sciences Po foi ocupada durante a noite por algumas dezenas de estudantes. A greve atingiu também as ondas da rádio, com muitas emissões canceladas e substituídas por música. A emissão da manhã da France Inter, a rádio mais ouvida do país, foi preenchida apenas com um flash informativo de hora a hora, seguido da playlist musical.

As próximas ações de luta serão anunciadas ao fim da tarde, após uma reunião intersindical agendada para as 18h locais. Mas já há greves marcadas a partir de 6 de fevereiro nos portos, refinarias e centrais elétricas e a 7 e 8 para os ferroviários.

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