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A comunidade de videojogos, as "gamer girls" e a objetificação

Em entrevista ao esquerda.net, a streamer Ana Guerra fala sobre a objetificação de mulheres na comunidade gamer e a tendência crescente de representação de comunidades minoritárias no mundo dos videojogos.
A comunidade de videojogos, as "gamer girls" e a objetificação
Fotografia de Ana Guerra/instagram.

Ana Guerra tem 25 anos e trabalha como Communications Manager da divisão de "gaming" num grupo de media. Nos tempos livres faz streaming no Twitch. Numa entrevista ao esquerda.net conduzida por Tiago Teixeira, falou do surgimento de mais personagens femininas nos videojogos e sobre a objetificação das mulheres na comunidade gamer. 


 

Como é ser uma mulher gamer num mundo dominado por homens?

É automaticamente assumirem que jogas mal, ou que jogas os ditos “jogos para raparigas”, e se fazes stream então de certeza que as tuas views devem-se a seres rapariga. Já sou gamer desde os meus 6 anos e tenho visto esta realidade a mudar lentamente pois o gaming está a tornar-se mais mainstream e acessível para todos através dos telemóveis. Contudo, do lado de quem trabalha na indústria, que é o meu caso, sinto que muitas vezes as mulheres têm de fazer mais para alcançar o mesmo reconhecimento que os homens.

Sentes algum tipo de condescendência quando vais às lojas comprar material (videojogos, comandos, etc)?

Geralmente não costumo sentir condescendência porque não entro em grandes conversas com os funcionários da loja. Quando visito lojas para comprar jogos ou equipamentos já sei aquilo que pretendo e provavelmente venho apenas buscar uma encomenda que fiz online. Talvez tenha sentido quando era mais nova, pois fiz diversas compras entre os meus 7 a 16 anos acompanhada dos meus pais.

Quando jogas em equipa, existe alguma resistência por seres mulher?

Penso que isto acontece sobretudo quando te deparas com jogadores ou equipas aleatórias. Em multiplayer, estou protegida desses comentários porque desligo as comunicações dos outros jogadores. Como o meu trabalho está muito ligado a gestão de comunidades nesta área, deparo-me diversas vezes com mulheres a partilharem algumas das situações que viveram em jogos e continua a ser assustador. É extremamente importante usar as ferramentas que existem in-game para denunciar estas situações.

Que frases costumas receber enquanto estás em live?

A mais frequente em termos de objetificação é perguntarem se tenho namorado. Nunca vi ninguém entrar no stream de um homem e perguntarem se tem namorada ou namorado. Se estiver live a usar um top, consigo logo notar outro tipo de condutas menos felizes. Conheço diversas streamers que quando verificam os clips criados nos canais delas, existem alguns com elas a levantarem-se ou a baixarem-se. Também sei que existem grupos que colecionam fotografias de streamers femininas. Por isso sim, existe muita objetificação.

O que achas do crescimento das mulheres como personagens principais nos videojogos?

Deixa-me muito feliz e entusiasmada pelo futuro! Não só as personagens femininas passaram a ter mais importância, como de facto têm histórias sólidas e interessantes com as quais me consigo identificar. Para além disso, observamos também um esforço em tentar representar minorias em termos de raça, orientação sexual e até crenças religiosas, o que também acho muito importante. Um exemplo perfeito disso é The Last of Us Parte II, que por essas mesmas razões, enfrentou diversas críticas. Estas mudanças são o reflexo das pessoas que estão por trás dos videojogos, pelo que precisamos cada vez mais de todo o tipo de pessoas nesta indústria e não apenas o estereótipo do nerd na sua cave.

Sobre o/a autor(a)

Técnico de informática e militante do Bloco de Esquerda.
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