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Catarina critica “economia da desigualdade” que favorece interesses imobiliários

No Barreiro, Catarina denunciou os "direitos adquiridos dos investidores enquanto vemos inquilinos a serem despejados das suas casas. Ao país real interessa a resposta sobre como podemos ter salários que paguem uma renda da casa, em vez de vivermos neste país de pernas para o ar onde a renda da casa é sempre mais alta do que o salário”.
Imagem de Rodrigo Antunes, Lusa.

Num comício com os candidatos distritais para as eleições legislativas, Daniel Bernardino, Diana Santos e Joana Mortágua, a coordenadora do Bloco de Esquerda abordou os problemas estruturais do país e as perguntas que não estão presentes na campanha, da falta de meios e recursos no Serviço Nacional de Saúde ou no setor imobiliário desregulado à custa de desigualdades crescentes.

Mas começou com um agradecimento ao trabalho da Diana Santos, atual deputada e candidata às próximas legislativas. “Temos aprendido imenso com a Diana. As pessoas com deficiência têm estado invisíveis no nosso país. E as ativistas como a Diana fazem não só o Bloco de Esquerda mais forte mas também o país mais forte”.

Abordou depois os problemas de uma "economia da desigualdade". “Ao país real interessa a resposta sobre como podemos ter salários que paguem uma renda da casa, em vez de vivermos neste país de pernas para o ar onde a renda da casa é sempre mais alta do que o salário. As perguntas que contam são as que olham para como vamos viver daqui a cinco ou dez anos se continuarmos a ignorar as alterações climáticas enquanto se constrói na costa num crescimento imobiliário desregulado que joga contra as nossas vidas e que se alimenta da mão de obra precária, mal pega e tantas vezes informal”, começou por dizer.

E deu um "pequeno exemplo desta economia desigual". Entre Tróia e Grândola, estão planeados cinco campos de golfe e vários resorts, com capacidade para receber turistas que duplicam a população destes concelhos. "Ninguém sabe onde vão viver os trabalhadores destes resorts. Ninguém sabe com que água se vai regar tanto campo de golfe. Ninguém sabe qual será a destruição da biodiversidade única da região com este turismo super-intensivo. Mas nada pode ser feito porque, dizem-nos, os investidores já tinham direitos adquiridos para a construção". 

Ao mesmo tempo, em todo o país "vemos inquilinos a ser despejados das suas casas por fundos de investimento mesmo depois do parlamento ter aprovado o direito de preferência de cada um à fração onde mora sem ser cumprido. Neste país, o direito do inquilino de quem trabalha e paga a sua renda, esse pode ser destruído a qualquer momento. O direito do investidor, esse, lá terá de ficar mesmo que nos afogue enquanto país e que seja ao contrário da resposta climática necessária". 

"Esta forma de desigualdade que escolhe sempre dar mais a quem tem tudo e escolhe sempre tornar a vida mais difícil a quem trabalha, esta economia de privilégio é aquela com a qual não nos conformamos. Não peçam ao Bloco de Esquerda para ser o gestor da desigualdade. Estamos aqui para transformar o país em nome de uma economia com Justiça. E é isso que será a escolha de 30 de janeiro. Se nos resignamos ou se transformamos o país", concluiu. 

Com ou sem mel, a direita será sempre a direita

Joana Mortágua começou por falar da direita, especificamente de Rui Rio, relembrando a curta-metragem Russa, de João Salaviza, que acompanha a história de uma habitante do Bairro do Aleixo, demolido por Rui Rio quando era presidente da Câmara do Porto.

Citando João Salaviza, “Rui Rio é um pesadelo que assombra a memória dos moradores do Aleixo. Trata-se de um tipo tenebroso e sinistro que decidiu brincar com a vida de centenas de pessoas para ceder ao interesse da especulação imobiliária. Há uma imagem dele muito paradigmática quando, na demolição da torre, num barco de luxo, faz uma pequena celebração com champanhe. Transforma o momento de aniquilação de uma comunidade numa celebração. E é este tipo, que tem esta forma de estar na política e de jogar com a vida das pessoas que quer ser primeiro-ministro de Portugal”.

A auditoria ao processo do Aleixo "viria a confirmar aquilo que o Bloco de Esquerda sempre disse: tratava-se de um fundo imobiliário constituído a favor do Grupo Espírito Santo, que sempre teve por objetivo entregar aos privados os terrenos valiosos e com vistas privilegiadas daquele bairro".

Por seu lado, "a insistência da Iniciativa Liberal por uma taxa plana de 15% de IRS mais não seria que “uma borla monumental para os milionários deste país”. A António Mexia, ex-CEO da EDP, que recebia mais de 3 milhões de euros, acabaria por ter uma borla de um milhão de euros.

“Com ou sem mel, a direita será sempre a direita. Com a sua pulsão privatizadora que já nos levou os dedos com os anéis, que deixou o país à mercê de uma competitividade internacional pelos baixos salários, com a sua apetência pelo extrativismo, a especulação e o fetichismo dos mercados financeiros. É na direita que mora, senão exclusivamente, o sonho selvagem do alquimista”, numa referência ao livro de Mariana Mortágua lançado esta semana.   

Vivemos numa sociedade que exerce discriminação contra pessoas com qualquer tipo de incapacidade

Diana Santos, atual deputada e também candidata às próximas legislativas, falou das dificuldades criadas contra as pessoas com deficiência e defendeu uma sociedade anti-capacitista e auto-determinada “que todos nós temos a capacidade de construir”, um caminho “a que o Bloco de Esquerda tem dado muita força”.

Como “mulher com deficiência estou consciente das múltiplas opressões que nos tocam e com as quais estamos cansados de lidar”, começou por explicar. “Estão presentes em todas as áreas da nossa vida, no acesso à educação e ao emprego, transportes e espaço público, no acesso e respeito aos nossos próprios corpos, cuidados de saúde e, em particular, à saúde sexual e reprodutiva”.

Tudo isto acontece porque "vivemos numa sociedade que exerce discriminação contra pessoas com qualquer tipo de incapacidade, baseado na premissa de que estas são inferiores e de que precisam de ser curadas”, continuou por dizer.

“As maiores evidências do capacitismo são as atitudes condescentes que nos sufocam e desempuderam porque pessoas não vivem a nossa realidade acham que sabem melhor o que precisamos”, explicou. E relembrou que “as mulheres com deficiência ainda sofrem mais com esta dupla discriminação”.

“Tem sido o Bloco de Esquerda que mais tem lutado por esta mudança de paradigma. Apresentando propostas de dignidade, opondo-se ao assistencialismo do conservadorismo de direita, baseando-se na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência”, bem como o partido que “mais tem pressionado o governo e o Partido Socialista obrigando a fazer escolhas nos Orçamentos do Estado”, mas ainda há muito a fazer, defendendo a recolha sistemática de dados estatísticos sobre a comunidade de pessoas com deficiência para poder definir políticas públicas.

Defendeu também a alteração do sistema de avaliação de graus de incapacidade que considera “completamente obsoleto”, passando para um paradigma psico-social “onde a pessoa com deficiência tem mais ou menos deficiência consoante consegue interagir com o meio”. “O Governo do PS está numa escalada para que apenas pessoas com 80% de incapacidade beneficiem de prestações sociais”, algo que já aconteceu com a prestação para a inclusão, bem como para a antecipação legal da reforma.  

Temos de combater a caducidade da contratação coletiva

Daniel Bernardino, candidato do Bloco de Esquerda no Barreiro, relembrou o empobrecimento dos trabalhadores e pensionistas provocado pelas medidas da troika e do governo de Passos Coelho. “Temos de combater a caducidade da contratação coletiva”, algo que considera fundamental para recuperar os salários estagnados desde 2011.

Mas relembrou também a proteção do Partido Socialista às medidas da troika no trabalho, facilitando o despedimento com compensações reduzidas “onde um trabalhador numa empresa há 30 anos não pode ter mais dinheiro numa situação de despedimento coletivo”.

“Não aceitamos e queremos reverter as alterações da troika”, reforçou. “Queremos reverter o aumento do tempo de trabalho por via da redução dos dias de férias”, defendendo a reposição dos 25 dias de férias. Bem como reverter “o poder de decisão do patrão no banco de horas individual”, que, na prática, rouba ao trabalhador horas de trabalho extraordinário que são contabilizadas para o banco de horas.

“Tudo isto foi um roubo aos trabalhadores através da troika” que se reflete agora em “enorme desigualdade salarial e precariedade entre os mais jovens”, alertou.

 

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