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Catalunha marcha pela liberdade após noite de violência nas ruas

Ao terceiro dia de protestos contra a condenação dos líderes políticos independentistas, cinco marchas com milhares de pessoas rumam a Barcelona, com chegada prevista para sexta-feira. A noite de terça foi de confrontos e barricadas nas ruas da capital catalã.
Marcha pela Liberdade
Coluna de Vic na Marcha pela Liberdade esta quarta-feira na Catalunha. Foto Assembleia Nacional Catalã/Flickr

O levantamento popular catalão contra o julgamento dos independentistas prossegue esta quarta-feira. Milhares de manifestantes estão nas estradas em cinco “Marchas pela Liberdade” oriundas de Girona, Tarragona, Vic, Berga e Tàrrega. Todas rumam a Barcelona, onde devem chegar na sexta-feira, dia de greve geral na Catalunha. As marchas irão complicar ainda mais o trânsito nos principais acessos à capital catalã e são convocadas pela Assembleia Nacional Catalã, Òmniu Cultural e Comités de Defesa da República, com a participação de familiares dos presos do “procés”.

A noite de terça-feira em Barcelona ficou iluminada pelas fogueiras das barricadas nas ruas, erguidas pelos manifestantes em protesto contra as sentenças do Supremo que condenaram os líderes políticos e sociais do processo que levou ao referendo de 1 de outubro de 2017. Segundo o governo catalão, houve 157 barricadas em chamas em diversas ruas e cruzamentos durante os protestos. Muitas delas continuaram cortadas ao trânsito na manhã de quarta-feira enquanto decorriam os trabalhos de limpeza.

Os confrontos entre a polícia e grupos de manifestantes foram subindo de tom desde o início da noite, após na véspera a Polícia Nacional ter atingido um participante na ocupação do aeroporto com uma bala de borracha. O uso desta munição por parte dos Mossos d’Esquadra foi proibido pelo governo catalão após ferimentos semelhantes noutras vagas repressivas.

A violência empregue pelos Mossos d’Esquadra na repressão dos protestos de terça-feira domina o rescaldo político do lado independentista, com  uma chuva de críticas ao governo catalão por parte dos Comités de Defesa da República e também de dirigentes da Esquerda Republicana Catalã, parceira do partido do chefe do executivo. Entre as figuras que já pediram a demissão do titular da pasta do Interior está Clara Ponsatí, que fez parte do governo de Puigdemont e seguiu para o exílio na Escócia para escapar às acusações da máquina judicial espanhola.

O governo catalão reagiu com críticas aos grupos de manifestantes violentos, pedindo que sejam isolados nas manifestações por parte da maioria que protesta pacificamente. Já a presidente da Câmara de Barcelona afirmou que não deseja mais “prisões injustas nem cargas policiais contra gente pacífica”, mas por outro lado também não quer “incêndios como os desta noite”. A autarquia já fez a estimativa dos danos, que ascende a 320 mil euros no que toca à substituição dos 150 contentores de lixo incendiados.

Em Madrid, o primeiro-ministro Pedro Sánchez foi alvo de críticas dos partidos da direita, que pedem uma intervenção mais musculada contra o “caos” provocado peloss manifestantes. Sánchez marcou reuniões com os principais partidos durante o dia de quarta-feira para analisar a situação na Catalunha.

Assumindo um tom conciliador aos microfones da televisão pública da Catalunha, o ministro do Interior espanhol, Fernando Grande-Marlaska, descartou esta manhã a possibilidade de aplicação da Lei de Segurança Nacional ou do Artigo 155 da Constituição que retira poderes aos órgãos do governo da Catalunha. “Não é preciso criar alarmismo. Neste momento, a segurança está garantida”, afirmou o ministro, após nas últimas semanas ter deslocado milhares de efetivos policiais espanhóis para a Catalunha. O ministro defendeu a ação policial da noite de terça-feira, classificando-a de proporcionada e sublinhou que “a grande maioria manifestou-se de forma pacífica”.

Do lado independentista, o Tsunami Democràtic - a organização que convocou o bloqueio ao aeroporto e que teve o treinador de futebol Pep Guardiola como porta-voz no apelo à comunidade internacional para obrigar Espanha ao diálogo — anunciou que até dia 26, data em que se realiza uma manifestação unitária, não irá convocar mais ações. O objetivo é deixar o protagonismo às iniciativas das organizações sociais e sindicais.

Este movimento conta com o apoio das principais figuras do independentismo catalão, mas optou por não apresentar nenhum líder, evitando assim possíveis responsabilidades penais. Por razões de segurança e privacidade, este movimento criou uma forma de mobilização através de uma aplicação móvel que informa os passos a seguir em cada iniciativa e nas redes sociais Twitter, Instagram e Telegram, onde já juntou cerca de 250 mil seguidores. Neste comunicado divulgado quarta-feira, o movimento renova o apelo à não violência nos protestos, à semelhança do que já fizeram vários dos presos políticos através das redes sociais.

 

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