A venda do BPN ao BIC foi uma venda de favor e a preço de amigo

17 de janeiro 2013 - 17:55

O coordenador do Bloco de Esquerda esclarece que o Bloco votou contra o relatório da comissão de inquérito sobre o BPN “não pelo que o relatório diz, mas precisamente pelo que não diz: a venda do BPN ao BIC foi uma venda de favor e a preço de amigo, determinada por motivações políticas e não pelo interesse público".

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Na discussão do Relatório final da Comissão de Inquérito Parlamentar ao Processo de Nacionalização, Gestão e Alienação do BPN, o deputado João Semedo afirmou que o Bloco foi o único partido a votar contra este relatório:

“O que o PS nacionalizou, privatizou o PSD/CDS. Parece diferente mas não é. Tudo ficou na mesma, o prejuízo continuou público e sempre a crescer, e o prémio, esse, foi direitinho para outros banqueiros, agora privados, neste caso, do BIC, um banco de capitais luso-angolanos, a quem o governo vendeu por 40 milhões um banco limpinho e pronto a operar no mercado, depois de ter gasto quase mil milhões para o conseguir vender por escassos 40 milhões.

O problema BPN ficou exatamente na mesma como o governo do PS o deixou. Um gigantesco buraco nas contas públicas, próximo dos quatro mil milhões de euros que podem ultrapassar os 6,5 mil milhões e que os contribuintes, todos nós, estamos e vamos continuar a pagar.

O PSD nunca quis este inquérito, mas, contrariado, não teve outro remédio que não fosse aceitá-lo. Cedo se percebeu ao que vinham PSD e CDS. O PSD viu no inquérito uma oportunidade de ouro para massacrar o PS pela péssima gestão do processo BPN e o CDS para prosseguir na sua cruzada anti-Constâncio.

Neste inquérito, PSD e CDS impuseram duas teses politicamente convenientes:

- a primeira, que o governo resolveu o problema do BPN;

- a segunda, que não havia alternativa à venda do BPN por 40 milhões, nem no preço, nem no momento e, como tal, sendo o negócio possível, foi uma boa e acertada opção;

Uma e outra tese são falsas.

O governo não resolveu o problema do BPN, resolveu o problema do BIC e, vendeu o banco ao BIC, porque quis e não porque não houvesse outras soluções.

E quis por razões políticas bem ilustradas pela intervenção do próprio Pedro Passos Coelho junto do ministro angolano Carlos Feijó, a quem pediu os seus bons ofícios para que o negócio se concluísse como veio a acontecer.

Fomos os únicos a votar contra este relatório mas não podia ser outro o nosso voto. Votámos contra não pelo que o relatório diz mas precisamente pelo que não diz: a venda do BPN ao BIC foi uma venda de favor e a preço de amigo, determinada por motivações políticas e não pelo interesse público.

No fim, tal como no princípio do caso BPN, sempre a perigosa promiscuidade entre certos círculos políticos e os grupos financeiros do costume, a habitual utilização de meios do estado para promover sombrios negócios privados, tudo beneficiando da conhecida impunidade que protege os poderosos.

Queremos toda a clareza, toda a diferença neste caso.

Há uma linha que nos separa do PSD, a linha que passa pelo Copacabana Palace.

A história do BPN conta-se em poucas palavras.

Uns roubaram que se fartaram e outros não deram por nada. Os primeiros andam por aí e o principal dos segundos estacionou em Frankfurt na sede do BCE. Estão todos bem e recomendam-se. Nem a justiça portuguesa incomoda demasiado os primeiros, nem os erros cometidos penalizam a carreira do dr. Constâncio. Tudo gente feliz.

Em 2008, quando o buraco do BPN era indisfarçável, o ministro Teixeira dos Santos nacionalizou o banco. Na verdade não nacionalizou o BPN, nacionalizou o passivo do banco.

Os ativos do grupo, esses, permaneceram com quem estavam, os acionistas do gangue que administrou e desfalcou o BPN anos a fio, os donos do BPN e que, entretanto, já mudaram o nome à sociedade, para protegerem o seu património e apagarem o mau nome que deixaram no mercado. Eram SLN são agora Galilei. Tudo gente feliz

Durante três anos, banqueiros públicos foram encarregados por Teixeira dos Santos de gerir o BPN nacionalizado. O buraco financeiro, agora à conta do estado, revelou-se em toda a sua dimensão.

Mas nem isso foi suficiente para que os gestores públicos conseguissem recuperar um euro que fosse, nuns casos porque eram tóxicos e não valiam nada, noutros casos, nos casos em que valiam, porque quem devia não queria pagar, outros recusavam qualquer responsabilidade na dívida porque eram simples testas de ferro ou então porque não se lhes conhece o nome ou, ainda, se têm nome não têm rosto, o que vai dar ao mesmo. Surpreendentemente, ninguém se incomodou muito com isto, nem quem devia ter sido incomodado para pagar o que devia o foi suficientemente. Tudo gente feliz.

E chegou o governo PSD/CDS. Escandalizado com o que viu, Vítor Gaspar prometeu resolver o problema, tal como Teixeira dos Santos também prometera.

Como sabemos, ficou tão bem resolvido, que continua a massacrar as contas públicas e o bolso dos portugueses”.

Termos relacionados: PolíticaBPN: A fraude do século