Um quinto das mulheres foram alvo de violência sexual na infância

09 de maio 2025 - 18:20

Um estudo global publicado na Lancet chega a esta conclusão. Entre os homens, foi um em cada sete. Em Portugal, os dados indicam que 9,9% das raparigas e 13,8% dos rapazes foram alvo deste tipo de agressões.

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Abuso
Abuso. Foto Rawpixel.

O estudo “Prevalence of sexual violence against children and age at first exposure: a global analysis by location, age, and sex (1990–2023)”, publicado esta quarta-feira pela revista científica The Lancet, aponta para que uma em cada cinco mulheres e um em cada sete homens a nível mundial tenham sofrido violência sexual na sua infância.

Os investigadores coordenados pelo Instituto de Métricas de Saúde e Avaliação da Universidade de Washington trabalharam sobre três bases de dados epidemiológicas globais que resultam de inquéritos realizados entre 1990 e 2023 em 204 países e sintetizaram 460 fontes diferentes, concluindo que 18,9% das mulheres e 14,8% dos homens com idade superior a 20 anos foram alvo deste tipo de violência na sua infância. Isto sem contar com as formas online de violência sexual que são medidas à parte.

Em Portugal, os números dizem que 9,9% das raparigas e 13,8% dos rapazes foram alvo deste tipo de agressões.

O estudo mostra ainda que a prevalência deste tipo de violência se tem mantido praticamente inalterada desde 1990. A violência sexual na infância “continua a ser altamente prevalente, permeando a vida das crianças em todos os locais, níveis socioeconómicos, idades e géneros”.

Adverte-se ainda que os números expostos “provavelmente subestimam” a dimensão do fenómeno e que há limitações como o facto de haver mais dados na maior parte dos países sobre violência sexual cometida sobre mulheres do que sobre homens ou de não se terem em conta “as pessoas trans e não conformes com o género” que sofrem “um risco elevado de abuso sexual infantil”-

Os autores são ainda cautelosos sobre as “diferenças geográficas substanciais” encontradas, referindo que “é difícil” perceber se são devidas a “diferenças reais” ou uma divulgação diferencial de inquéritos. Ao mesmo tempo, apontam-se potenciais “causas subjacentes” das diferenças encontradas os níveis de igualdade de género, a “conceção de masculinidade”, as condições sócio-económicas, a situação da juventude e as leis e políticas de proteção pública.

As taxas mais elevadas de violência sexual na infância no caso das mulheres foram detetadas nas Ilhas Salomão (43%), Costa do Marfim (33%), Chile (31%), Costa Rica e Índia (30%). As mais baixas no Montenegro (6,9%) e Vietname e a Roménia (7%). Nos homens, as taxas foram na Costa do Marfim (28%), Bangladesh e Botswana (27%) e Haiti (26%). As mais baixas na Mongólia (4%), Geórgia e Arménia (7%).

Outro indicador analisado foi a idade em que aconteceu o primeiro episódio de violência sexual. Quando questionados sobre quando sofreram violência sexual pela primeira vez, 67% das mulheres e 72% dos homens revelaram que foi antes dos 18 anos. Em 8% dos casos das mulheres e 14% dos homens esta aconteceu antes dos 12 anos. Em 42% delas e 48% deles antes dos 16.

Face a isto, a investigadora principal do estudo, Emmanuela Gakidou, sublinha a “urgência de abordar este problema generalizado”, apelando a melhorar e ampliar programas de prevenção e políticas públicas neste domínio.