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Ultra-ricos aumentaram em 2021, riqueza concentrou-se ainda mais

O relatório sobre a riqueza global do Credit Suisse conclui que os mais ricos beneficiaram de uma "explosão de riqueza" ao longo da recuperação da pandemia, graças ao mercado bolsista e imobiliário, ao passo que a desigualdade aumentou.
Foto Barta IV/Flickr

No final de 2021 havia 264.200 ultra-ricos do planeta, segundo o relatório do Credit Suisse sobre a riqueza global. São pessoas que detêm um património líquido superior a 50 milhões de euros e o ano passado, no início da recuperação económica pós pandemia, viu aumentar este grupo em 46 mil pessoas. O aumento deve-se a uma autêntica "explosão de riqueza" que beneficiou os mais ricos, em particular com o aumento dos preços no mercado imobiliário e nas bolsas de valores. Mas o ano da pandemia também não foi amargo para aqueles que representam agora 0,00004% da população do planeta. Se juntarmos 2020 e 2021, o grupo dos ultra-ricos aumentou mais de 50%, refere o relatório citado pelo Guardian. No topo da pirâmide estão os 7.070 que detêm mais de 500 milhões.

A desigualdade é o roubo

Francisco Louçã

"O forte aumento dos ativos financeiros resultou num aumento da desigualdade em 2021", admite o Credit Suisse, acrescentando que a "recuperação da atividade macroeconómica num ambiente de juros baixos produziu condições extremamente favoráveis para o aumento da riqueza ao longo de 2021", com um aumento de 9,8%, ou seja, 41.4 biliões de euros. As medidas tomadas pelos governos e bancos centrais para responder aos efeitos económicos da pandemia levaram a um aumento do preço das ações em bolsa, o que explica também o aumento da desigualdade. Com a queda dos preços nas bolsas registado este ano, é possível que os níveis de desigualdade recuem para os valores anteriores à pandemia, preveem os autores do relatório.

1% controlam quase metade da riqueza mundial

Mas se a riqueza global aumentou, a verdade é que ficou concentrada nas mãos de um número cada vez menor de pessoas. Os 1% mais ricos do mundo viram a sua fatia aumentar de 44% para 46% da riqueza mundial. E também está cada vez mais concentrada geograficamente: os EUA repesentam metade do aumento da riqueza em 2021 e a China um quarto, com o resto do mundo a repartir o quarto restante.

Quanto ao número de milionários, pessoas que detêm um património líquido acima de um milhão de euros, o autor do relatório, Anthony Shorrocks, afirma que cresceu tanto que se está a tornar "uma medida de riqueza cada vez mais irrelevante". Eram no final do ano passado 62.5 milhões de pessoas, mais 5.2 milhões do que no ano anterior. Mais uma vez, os Estados Unidos representam metade dos novos milionários, o maior aumento registado por qualquer país em qualquer ano deste século. Mais de um terço dos milionários vive nos EUA, seguindo-se a China com 10%, o Japão com 5,4%, o Reino Unido com 4,6% e a França com 4,5%.

Em termos da riqueza média per capita da população adulta, é a Suíça que lidera o ranking, com 700 mil euros, seguindo-se os EUA com 579 mil. Se as contas forem feitas à mediana, ajustando assim o efeito das desigualdades, a Suíça cai para o sexto lugar com 168 mil euros por adulto e os EUA para o 18º com 93 mil. Nesse ranking da riqueza mediana per capita é a Austrália que lidera com 274 mil euros.

Nas contas do Credit Suisse, o número de milionários em Portugal reduziu-se em dez mil pessoas, fixando-se em 159 mil residentes no nosso pais em 2021. A riqueza média por adulto terá caído cerca de 5 mil dólares, o que é explicado por fatores ligados à valorização cambial do dólar, a moeda usada para este cálculo.

No que diz respeito ao futuro, as previsões do Credit Suisse apontam para um aumento da riqueza global de 36% até 2026, apesar dos efeitos da guerra e da inflação, com os países de baixo e médio rendimento a serem responsáveis por 42% desse aumento. O banco estima que daqui a cinco anos o número de milionários aumente para 87 milhões de pessoas e o de ultra-ricos para 385 mil pessoas. A China continuará a dar passos de gigante no crescimento da riqueza, depois de ter avançado entre 2000 e 2021 o equivalente a 80 anos da hstória dos EUA a partir de 1925. Nesta comparação com a riqueza norte-americana desde o início do século XX ajustada à inflação, entre 2021 e 2026 a China poderá avançar mais 14 anos, atingindo então o nível de riqueza que os EUA tinham em 2019, ou seja, reduzindo o seu atraso para sete anos.

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