Em declarações ao jornal Expresso, um antigo vigilante do Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR) explicou que “ninguém quer ficar lá a trabalhar muito tempo nestas condições”. De acordo com os seus relatos, o ambiente na instituição, onde permaneceu durante 15 anos, até sair por mobilidade no início de maio, é “terrível e muito pesado”. No museu “não existe respeito entre as chefias e os trabalhadores”, que são “tratados com berros”, e “quem não compactua com o que lá se passa vai parar à lista negra”, detalhou.
O trabalhador deu o exemplo de um jovem colega que trabalhou no museu durante menos de um mês, entre 13 de abril e 9 de maio, data em que foi despedido: “Começou a questionar e passou a ser incómodo”, assinalou.
Esse mesmo colega deu conta de “episódios constantes de repressão e coação” contra os trabalhadores, como quando “o diretor do museu pediu aos seguranças que recolhessem imagens de um colega para o coagir”.
Este ex-vigilante respondeu a uma vaga de assistente de sala anunciada pela Patrimonium, marca da empresa Odysseyconcept – Lda, mas acabou por cumprir funções de vigilância, para as quais não tinha formação. O valor salarial que lhe foi prometido, de 760 euros líquidos, mais o subsídio de alimentação de 2,5 euros por dia, também não correspondeu ao montante depositado na sua conta. Os 760 euros eram, afinal, o valor ilíquido, ao contrário do que estipulava o próprio contrato firmado com a empresa. Após enviar dois e-mails a questionar esta discrepância, surgiu um telefonema para informá-lo de que seria despedido, alegadamente porque “estaria a causar mau ambiente”. O trabalhador apresentou queixa à ACT e aguarda resposta.
Ambos os ex-vigilantes do Museu referiram ainda um alegado caso de assédio de que foi vítima uma colega mais nova. A trabalhadora, que rescindiu contrato no início de maio, terá sido intimidada diariamente por outros colegas mais velhos devido à forma como se vestia, e um técnico superior tentou aproximar-se “demasiado” dela.
Sindicato confirma que recebeu denúncias
Lurdes Ribeiro, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte, confirma que a estrutura sindical recebeu “algumas queixas dos trabalhadores sobre o mau ambiente” no Museu Nacional Soares dos Reis. “Dizem que não se sentem bem. E, mesmo que não dissessem nada, alguma coisa teria de estar a acontecer, caso contrário não estariam sempre a sair trabalhadores do museu”, assinalou a dirigente sindical.
De acordo com Lurdes Ribeiro, a situação degradou-se desde que o novo diretor do MNSR tomou posse: “Desde que António Ponte assumiu a direção do museu, os trabalhadores têm-se queixado mais, sobretudo da atitude do diretor”, frisou.
“Já ouvi relatos de que o diretor tem uma forma incorreta de os abordar. Estas denúncias começaram a surgir sobretudo quando foi contratada uma empresa privada para colocar cerca de uma dezena de trabalhadores no museu”, acrescentou a dirigente sindical.
Após ter solicitado à secretária de Estado da Cultura para indagar o que se passava no Museu, a representante governamental assegurou a Lurdes Ribeiro que tinha estado no MNSR e “não se tinha apercebido de nada do que tinha sido relatado”. “Até disse que ficou com a perceção de que os trabalhadores são incansáveis e fazem tudo”, contou a dirigente do STFPSN.
Diretor do Museu nega acusações
António Ponte, diretor do Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR), garantiu não ter “conhecimento de qualquer denúncia acerca do ambiente de trabalho” e negou todas as acusações, enfatizando que as mesmas são “completamente infundadas”.
Sobre a questão relacionada com a saída de trabalhadores, António Ponte apontou que, desde o ano passado, saíram cinco funcionários por mobilidade, o que asseverou ser uma situação que “ocorre com muita frequência e com alguma regularidade” nos quadros da função pública.