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Trabalhadores do Museu Soares dos Reis denunciam ambiente laboral “tóxico”

Relatos dão conta de “episódios constantes de repressão e coação” contra os trabalhadores. Sindicato confirma que recebeu denúncias, mas diretor do Museu garante que acusações são “completamente infundadas”.
Foto de Alegna13, Wikipedia.

Em declarações ao jornal Expresso, um antigo vigilante do Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR) explicou que “ninguém quer ficar lá a trabalhar muito tempo nestas condições”. De acordo com os seus relatos, o ambiente na instituição, onde permaneceu durante 15 anos, até sair por mobilidade no início de maio, é “terrível e muito pesado”. No museu “não existe respeito entre as chefias e os trabalhadores”, que são “tratados com berros”, e “quem não compactua com o que lá se passa vai parar à lista negra”, detalhou.

O trabalhador deu o exemplo de um jovem colega que trabalhou no museu durante menos de um mês, entre 13 de abril e 9 de maio, data em que foi despedido: “Começou a questionar e passou a ser incómodo”, assinalou.

Esse mesmo colega deu conta de “episódios constantes de repressão e coação” contra os trabalhadores, como quando “o diretor do museu pediu aos seguranças que recolhessem imagens de um colega para o coagir”.

Este ex-vigilante respondeu a uma vaga de assistente de sala anunciada pela Patrimonium, marca da empresa Odysseyconcept – Lda, mas acabou por cumprir funções de vigilância, para as quais não tinha formação. O valor salarial que lhe foi prometido, de 760 euros líquidos, mais o subsídio de alimentação de 2,5 euros por dia, também não correspondeu ao montante depositado na sua conta. Os 760 euros eram, afinal, o valor ilíquido, ao contrário do que estipulava o próprio contrato firmado com a empresa. Após enviar dois e-mails a questionar esta discrepância, surgiu um telefonema para informá-lo de que seria despedido, alegadamente porque “estaria a causar mau ambiente”. O trabalhador apresentou queixa à ACT e aguarda resposta.

Ambos os ex-vigilantes do Museu referiram ainda um alegado caso de assédio de que foi vítima uma colega mais nova. A trabalhadora, que rescindiu contrato no início de maio, terá sido intimidada diariamente por outros colegas mais velhos devido à forma como se vestia, e um técnico superior tentou aproximar-se “demasiado” dela.

Sindicato confirma que recebeu denúncias

Lurdes Ribeiro, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte, confirma que a estrutura sindical recebeu “algumas queixas dos trabalhadores sobre o mau ambiente” no Museu Nacional Soares dos Reis. “Dizem que não se sentem bem. E, mesmo que não dissessem nada, alguma coisa teria de estar a acontecer, caso contrário não estariam sempre a sair trabalhadores do museu”, assinalou a dirigente sindical.

De acordo com Lurdes Ribeiro, a situação degradou-se desde que o novo diretor do MNSR tomou posse: “Desde que António Ponte assumiu a direção do museu, os trabalhadores têm-se queixado mais, sobretudo da atitude do diretor”, frisou.

“Já ouvi relatos de que o diretor tem uma forma incorreta de os abordar. Estas denúncias começaram a surgir sobretudo quando foi contratada uma empresa privada para colocar cerca de uma dezena de trabalhadores no museu”, acrescentou a dirigente sindical.

Após ter solicitado à secretária de Estado da Cultura para indagar o que se passava no Museu, a representante governamental assegurou a Lurdes Ribeiro que tinha estado no MNSR e “não se tinha apercebido de nada do que tinha sido relatado”. “Até disse que ficou com a perceção de que os trabalhadores são incansáveis e fazem tudo”, contou a dirigente do STFPSN.

Diretor do Museu nega acusações

António Ponte, diretor do Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR), garantiu não ter “conhecimento de qualquer denúncia acerca do ambiente de trabalho” e negou todas as acusações, enfatizando que as mesmas são “completamente infundadas”.

Sobre a questão relacionada com a saída de trabalhadores, António Ponte apontou que, desde o ano passado, saíram cinco funcionários por mobilidade, o que asseverou ser uma situação que “ocorre com muita frequência e com alguma regularidade” nos quadros da função pública.

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