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Tempestade tropical mais longa da história devasta África

O ciclone Freddy passou pelo Malawi, Moçambique e Madagáscar, causando centenas de mortos e feridos e dezenas de milhares de desalojados. Pelo caminho foi batendo recordes de intensidade e duração.
Destruição em Quelimane. Foto de ANDRÉ CATUEIRA/EPA/Lusa.
Destruição em Quelimane. Foto de ANDRÉ CATUEIRA/EPA/Lusa.

Mais de um mês de atividade e mais de 8.000 quilómetros percorridos desde a costa da Austrália até ao sul do Oceano Índico tornam o ciclone Freddy a tempestade tropical mais longa desde que há registos históricos. Está a afetar sobretudo o Malawi mas também Moçambique e Madagáscar.

Até ao momento em que esta notícia foi redigida, tinham já sido confirmadas 225 mortes, a maior parte no Malawi, onde o governo também aponta para a existência de pelo menos 707 feridos, 41 desaparecidos e 20.000 desalojados. A verdadeira escala do desastre está, contudo, ainda por conhecer, reconhecem as fontes oficiais.

A zona mais afetada é a da segunda maior cidade do pais, Blantyre, onde ocorreram muitos deslizamentos de terra depois das chuvas torrenciais. Foi declarado “estado de calamidade” na região onde mais de 88.000 pessoas foram atingidas pela tempestade. À AFP, os habitantes de Chilobwe, população perto de Blantyre, disseram estar convencidos que ainda havia dezenas de corpos debaixo dos detritos. A chuva e as inundações continuam a ser um desafio à chegada de ajuda, explica Felix Washon, o porta-voz da Cruz Vermelha do país.

Em Moçambique morreram 21 pessoas. Aí foi a província da Zambézia, no centro do país, a mais fustigada com perto de 65.500 pessoas afetadas, muitas das quais ficaram sem casa. Mas o Instituto Nacional de Gestão de Desastres conta que hajam perto de 41.300 pessoas abrigadas nos 65 centros de acolhimento espalhados pelo país depois da segunda passagem desta tempestade pelo território. A primeira tinha já deixado para trás dez vítimas mortais.

Com as ações de auxílio também ainda a serem dificultadas pela chuva, algumas das preocupações viram-se também já para o futuro. O professor de geografia e diretor da Faculdade de Educação da Universidade Licungo, de Quelimane, falou à RFI para sublinhar que “a maior parte das culturas são consideradas perdidas. Isto faz com que a segurança das pessoas em termos alimentares vai ficar bastante comprometida numa dimensão que se pode chamar de grave”. E implicará que “as comunidades que já tinham um défice alimentar ainda vão viver piores dias porque terão que aguardar a descida das águas para fazerem novas sementeiras, o que significa que os próximos três a quatro meses serão difíceis”.

Freddy, a tempestade que bate recordes

O Freddy surgiu a 9 de fevereiro, tendo batido já o recorde da tempestade tropical mais longa, até agora detido por um furacão que em 1994 durou 31 dias.

A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA, citada pela AlJazeera, indica que “nenhum outro ciclone tropical nesta parte do mundo tomou um tal caminho ao longo do Oceano Índico nas últimas duas décadas”. No total, apenas quatro tempestades tinham feito este caminho, a última delas em 2000.

O furacão Freddy detém ainda o recorde da maior energia acumulada de ciclone, uma unidade de medida que relaciona a força do vento que causa ao longo do seu ciclo de existência, de uma tempestade no hemisfério sul “e possivelmente do mundo inteiro”, escreve-se.

A Organização Meteorológica Mundial diz que, por si só, gerou tanta energia acumulada de ciclone quanto a média da totalidade da época de ciclones do Atlântico Norte. Ressalva no entanto que, em alguns pontos do seu percurso, poderá ter enfraquecido abaixo do estatuto de ciclone tropical. Por outro lado, os peritos desta organização indicam que parece ter batido o recorde mundial de mais episódios de intensificação rápida que são aumentos na velocidade do vento de 80 km por hora num período de 24 horas. Terão acontecido sete destes ciclos quando o número máximo até agora registado tinha sido quatro.

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