O Information Policy and Integrity Exchange (IPIE) publicou uma revisão histórica sobre desinformação e desinformação climática, sintetizando uma década de investigações em 300 estudos. A revisão revela uma evolução preocupante nas táticas de desinformação climática.
O negacionismo está a dar lugar a estratégias mais insidiosas – como semear dúvidas sobre energias renováveis, exagerar a incerteza científica e reenquadrar a ação climática como um exagero elitista. Estas táticas estão cada vez mais interligadas e são amplificadas pelos algoritmos, turvando a compreensão pública e atrasando respostas políticas urgentes.
A análise identifica cinco quadros narrativos dominantes usados para distorcer a ciência climática: negação de causas antropogénicas; distração através de crises não relacionadas; ataques a defensores do clima; promoção de falsas soluções; e amplificação estratégica da incerteza. Estes quadros não são aleatórios – são frequentemente utilizados por atores poderosos com interesses pessoais em economias baseadas em combustíveis fósseis e polarização política.
As Nações Unidas declararam que o acesso à informação sobre as alterações climáticas é um direito humano. Até delinearam um conjunto de princípios globais para manter a integridade das informações publicamente disponíveis sobre as alterações climáticas. O nosso estudo mostra que informações enganosas estão a agravar a crise climática.
Veja-se, por exemplo, a forma como os críticos rapidamente culparam a energia solar e eólica pelo enorme apagão na Espanha e em Portugal em 28 de abril. Isto foi amplificado nas redes sociais durante semanas antes de o governo espanhol finalmente declarar que a operadora nacional da rede elétrica e as empresas privadas de geração de energia eram responsáveis pela falta de capacidade da rede elétrica de controlar a tensão da rede. De acordo com um dos principais autores do relatório, o professor Klaus Jensen, a desinformação e a informação enganosa corroem a confiança pública e prejudicam a tomada de decisões coletivas. Elas não apenas obstruem os esforços de redução de emissões, como também atrasam a adaptação climática.
A revisão também avalia contra-medidas. Embora a verificação de factos continue a ser vital, ela não é suficiente. Respostas mais eficazes combinam legislação para garantir relatórios de carbono padronizados, litígios contra greenwashing, educação de formuladores de políticas e alfabetização mediática pública, bem como a construção de coligações entre grupos de partes interessadas. No entanto, estas intervenções são aplicadas de forma desigual e carecem de recursos.
Para jornalistas, educadores e formuladores de políticas, a mensagem é clara: a desinformação climática não é apenas uma questão científica – é sistémica. Enfrentá-la exige colaboração intersetorial e um compromisso renovado com a integridade da informação.
Heather Ford é professora da Escola de Comunicação da Universidade de Tecnologia de Sydney.
Publicado no EcoDebate. Editado para português de Portugal pelo Esquerda.net.