Sonangol: Risco de falência

20 de junho 2015 - 18:44

A petrolífera angolana está em risco de falência, refere o “Expresso” deste sábado. Segundo um relatório interno o modelo operacional da empresa “fracassou e está falido”. O presidente da Sonangol assinala que só a exploração dá lucro e a petrolífera depende da injeção de dinheiro do Estado.

PARTILHAR
Sede da Sonangol em Luanda, foto da Wikipedia

O jornal “Expresso” deste sábado, 20 de junho de 2015, noticia que a petrolífera angolana Sonangol está em risco de falência técnica e à beira do colapso.

A queda do preço do petróleo afetou a petrolífera e pôs a nu a sua situação interna.

Segundo o jornal, um relatório do presidente da Sonangol, Francisco de Lemos, revela que, sem o apoio do Estado angolano, a empresa dificilmente consegue “mover-se por si própria”.

Em reunião interna de há um mês, Francisco de Lemos assumiu que o modelo operacional da Sonangol “fracassou e está falido”.

O relatório aponta que só a exploração de petróleo (upstream1), liderada por empresas americanas, dá lucro.

O documento assinala ainda: “ao incluir-se todo o custeio relacionado com o outsourcing de serviços, o resultado líquido torna-se negativo”.

“Deixámos de aprender a saber fazer e aprendemos a contratar e subcontratar”, é referido numa das conclusões do relatório da reunião.

Uma fonte do ministério das Finanças diz ao jornal: “É por isso que o Estado é agora obrigado a injetar dinheiro”.

Aquilo parece a raposada a tomar conta do galinheiro”

Há sete anos a Sonangol chegou a ter uma produção diária de 1,9 milhões de barris. Mas, entre 2008 e 2014, a produção diária registou um diferencial de 234 mil barris. E ainda não será em 2015 que voltará ao nível de produção de 2008.

O relatório aponta que as funções críticas da Sonangol deixaram de ser assumidas pela empresa e passaram a ser realizadas por consultores estrangeiros. A petrolífera regista um número crescente de contratos-fantasma.

O documento acentua a existência de contratos de serviços em toda a companhia, desde “as finanças, saúde e gestão da cadeia de logística” até “a contratação com nós próprios”. Francisco de Lemos, confrontado com a sobrefaturação, cortou em 40% o valor dos contratos de prestação de serviços.

A Sonangol tem 8.500 trabalhadores e mais 4.500 de contratação de serviços.

Um alto funcionário da francesa Total disse ao “Expresso” que a situação “deve-se em parte ao afastamento brusco de quadros com competência, visão e experiência que faziam parte da escola de gestão de Manuel Vicente”.

Um antigo funcionário agora reformado afirma: “A Sonangol já não é o que era, todo o mundo vive à pala de consultores estrangeiros importados em massa e o negócio particular lá dentro afogou os interesses da empresa. Aquilo parece a raposada a tomar conta do galinheiro”.

O negócio das contratações e subcontratações proporcionaram um espantoso enriquecimento ilícito a alguns administradores e altos funcionários. “A vida faustosa que ostentavam é um insulto aos restantes cidadãos do país”, afirmou ao “Expresso” o sociólogo Jeremias Miguel.

O bloco mais caro do mundo

[caption align="right"] Em Portugal, a Sonangol é a maior acionista do BCP (com 19,44%) e controla 45% da Amorim Energia, a qual detém 38,34% da Galp[/caption]

O presidente da Sonangol teve também de suspender a presença da Sonangol Pesquisa e Produção no bloco petrolífero 2. “Com custos de produção que eram cinco vezes superiores ao preço de venda, conseguimos cometer a proeza de fazer do bloco 2 o bloco mais caro do mundo”, refere um economista ao jornal.

A Sonangol gastou, em 2014, 13.700 milhões de dólares na rubrica de “custos e perdas operacionais”. Os custos da contratação de consultores passaram de 110 milhões de dólares em 2013 para 256 milhões em 2014. As despesas com a gestão do sistema informático, passaram a ser superiores ao custo da licença e ascenderam a 125 milhões nos últimos quatro anos. Em rendas e alugueres a petrolífera gastou 211 milhões de dólares em 2014.

Novo empréstimo da China

A administração da Sonagol decidiu, perante a gravidade da situação, desinvestir na Sonangalp (parceria com a Galp na distribuição de combustíveis) e reduzir a participação na refinaria do Lobito.

A administração da Sonangol decidiu também fazer uma parceria com a China para a refinaria do Soyo, na província do Zaire, reduzindo a sua participação a 20%. O investimento chinês é prioritário para travar as despesas com a importação de combustíveis que ascendem a 8.000 milhões de dólares por ano. Angola tem atualmente uma dívida à China no montante de 14.000 milhões de dólares.

Em Portugal, a Sonangol é a maior acionista do BCP (com 19,44%) e controla 45% da Amorim Energia, a qual detém 38,34% da Galp.


1 Upstream - Todas as atividades que antecedem a refinação e envolvem exploração, desenvolvimento, produção e transporte.