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Off-shores com as maiores transferências de sempre

A conclusão foi apresentada esta sexta-feira pelo economista Carlos Pimenta, que admitiu que parte dessas transferências têm origem em fraudes fiscais. A economia não declarada ao fisco, em Portugal, rondava os 30 mil milhões de euros em 2008.
O valor português da economia não declarada "é 2,6 vezes o dos Estados Unidos, 2,3 vezes o da Suíça, 1,8 vezes o do Reino Unido e 1,5 vezes o da França", sendo "similar ao espanhol e menor que o italiano e o grego", afirmou Carlos Pimenta. Foto Paulete Matos.
Participando na conferência “Combatendo o crime na Europa", em Lisboa, organizada pelo Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, o professor da universidade do Porto Carlos Pimenta disse não ser ainda possível quantificar os valores dos investimentos transferidos em Portugal para "off-shores" mas destacou o facto de estes terem atingido valores que estão entre os mais altos de sempre. "Nunca saiu de Portugal tanto dinheiro para "off-shores", afirmou Carlos Pimenta, presidente do Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF).
Quanto à origem desse dinheiro, o economista disse existir "uma fortíssima possibilidade de todo este investimento nos off-shores ter como fundamento a fuga ao fisco". Trata-se, explicou Carlos Pimenta, de "esconder às autoridades o circuito do dinheiro".
Admitindo a legalidade das operações, Carlos Pimenta disse ter suspeitas quanto a parte desses investimentos. "No mínimo, será uma enorme falta de transparência", acrescentou em declarações aos jornalistas, à margem da conferência.
A economia não declarada ao fisco em Portugal rondava os 30 mil milhões de euros em 2008, ou seja, 23 por cento do PIB, tendo tendência para aumentar com a crise, alerta então o OBEGEF. "Tem havido uma tendência de aumento, quer da economia não registada quer da fraude, em Portugal", frisou Carlos Pimenta.
Recentemente, e a propósito de dados de 2007, o economista afirmou que a "economia sombra" portuguesa "corresponderia a uma pilha de notas de 100 euros quase da altura da Torre dos Clérigos", mas esta sexta-feira, admitiu à Lusa, "com notas de 500 euros ainda era suficiente" para "acompanhar” aquele monumento portuense. Os dados da OBEGEF medem "essencialmente a economia não registada de fuga ao fisco. Se entrarmos em conta com as actividades ilegais, provavelmente são valores mais elevados", afirmou.
Carlos Pimenta referiu também que a "fraude feita contra as empresas ronda cerca de 10 por cento das vendas das empresas" em Portugal.
O valor português da economia não declarada, segundo o presidente do OBEGEF, "é 2,6 vezes o dos Estados Unidos, 2,3 vezes o da Suíça, 1,8 vezes o do Reino Unido e 1,5 vezes o da França", sendo "similar ao espanhol e menor que o italiano e o grego". "As comparações com outros países desenvolvidos também revelam que os nossos “brandos costumes” são uma constatação vazia", sublinhou.
Carlos Pimenta alertou que a actual situação de crise económica constitui uma preocupação acrescida em termos de combate à fraude e à fuga ao fisco. "Em situações de crise, é provável que exista um aumento da própria prática de fraudes, mas sobretudo há um aumento claro de detecção de situações de fraude (…), porque a impossibilidade de pagar as dívidas faz com que essas fraudes sejam reveladas", disse, salientando também que "2009 foi o ano em que mais dinheiro saiu para os “offshores" nos últimos 15 anos.
Organizada pelo Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, a conferência "Combatendo o crime na Europa" reúne procuradores e especialistas nacionais e internacionais, incluindo dos países lusófonos.
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