A pandemia de covid-19 está a ser acompanhada por um aumento dos pedidos de ajuda na área da saúde mental, seja por profissionais de saúde ou pessoas com outras profissões. Quem o afirma é Miguel Xavier, diretor do Programa Nacional de Saúde Mental.
Miguel Xavier prestou declarações no briefing diário da Direção-Geral da Saúde, esclarecendo que existem “vários determinantes” que fazem com que a saúde mental seja particularmente afetada por esta pandemia, nomeadamente o medo, a disrupção social e o confinamento.
“Não vemos os nossos colegas, a família, tivemos de nos converter ao teletrabalho de uma forma muito rápida”, disse, acrescentando depois: “Estamos confinados por um bem maior. O confinamento, se traz algumas coisas boas, como o recuperar de algumas coisas que se faziam em família, mas também traz algo que não estávamos habituados, que é viver todos juntos, no mesmo sítio e ao mesmo tempo e isso faz com que alguns conflitos latentes possam tornar-se manifestos”.
Porém, o efeito da pandemia da covid-19 na saúde mental não se traduz automaticamente e em todos os casos em problemas de saúde mental.
“Podem é ter alguns problemas de natureza psicológica, como ansiedade, preocupação em relação ao futuro, que se pode traduzir em insónia, perde de apetite, etc”, esclareceu o especialista, reforçando que estes são “sentimentos muito comuns que atravessam a sociedade”.
Segundo a Lusa, o questionário “Opinião Social” do Barómetro Covid-19, da Escola Nacional de Saúde Pública, revelou recentemente que um quarto dos inquiridos se sente ansioso, em baixo, ou triste “todos os dias” ou “quase todos os dias”, sendo a maioria mulheres e pessoas em teletrabalho.
Quase um terço reportou distúrbios de sono, um quarto diz sentir que não consegue fazer tudo o que precisava fazer e 23% confessa estar sempre a pensar na pandemia.
Reforço dos serviços de saúde
Segundo Miguel Xavier, está a ser feito um reforço das respostas na área da saúde mental, quer nos cuidados de saúde primários, quer nos hospitais. Paralelamente, foi criado um site, em coordenação com o Programa Nacional para a Saúde Mental, focado especificamente nas necessidades desta fase.
Em caso de necessidade de apoio nesta área, os cidadãos deverão sempre recorrer primeiro aos centros de saúde e unidades de saúde familiar.
“O acesso aos cuidados de saúde primários faz-se como sempre, mas já está ativado um plano de catástrofe que pressupõe a existência em cada centro de saúde de um núcleo local de catástrofe”, explicou.
E acrescentou: “É a partir desse núcleo que se faz toda a orientação das pessoas que recorram aos centros de saúde com sintomatologia relacionado com a covid-19. Todos os núcleos estão ativados e a funcionar há duas ou três semanas”.
Também nos serviços de psiquiatria dos hospitais existem alterações, nomeadamente com a criação de unidades covid-19 dirigidas especificamente aos doentes infetados que necessitem de apoio específico. Foram também criados serviços próprios de atendimento a profissionais de saúde nos hospitais centrais, onde está localizada a maioria dos departamentos de psiquiatria.