O economista Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova York que ficou famoso por ter previsto a crise financeira internacional de 2008, defende a reestruturação das dívidas de Portugal, Grécia, Irlanda, Itália e Espanha (os chamados PIIGS). Num artigo assinado também pelo historiador Stephen Mihm, da Universidade da Geórgia, e publicado esta quinta no Todayonline, Roubini defende a passagem imediata para o “Plano B”, já que o “Plano A”, que ele apelida de “Empreste e reze”, não está a funcionar, e nem pode funcionar.
O artigo recorda que a solução alemã, de manter o crescimento dos salários abaixo da subida da produtividade, reduzindo assim os custos unitários do trabalho, “demorou mais de uma década a dar resultados.” Assim, se estes países “começassem este processo hoje, os benefícios demorariam muito a restaurar a competitividade e o crescimento”.
Roubini e Mihm observam que não se pode esperar um rápido crescimento do PIB que salve estes países, já que os encargos da dívida são tão altos que é praticamente impossível chegar a uma performance económica robusta.
“Reduzir o consumo público e privado para aumentar a poupança privada, e implementar a austeridade fiscal para reduzir as dívidas privada e pública, também não são opções”, apontam os dois professores. “O sector privado pode gastar menos e poupar mais, mas isso implicaria um custo imediato conhecido como paradoxo de Keynes da poupança: declínio da produção económica e aumento da dívida como percentagem do PIB.” Por outro lado, recordam, “estudos recentes do FMI e outros sugerem que o aumento de impostos, corte de subsídios e redução de gastos do governo – até mesmo os gastos ineficientes – iriam sufocar o crescimento no curto prazo, agravando o problema da dívida subjacente.”
A única alternativa é a reestruturação da dívida
Se o “Plano A” está votado ao fracasso, é preciso passar rapidamente para o “Plano B” – uma “reestruturação ordenada e redução das dívidas dos governos destes países, das famílias e dos bancos”.
Roubini e Mihm apontam várias formas de o fazer. Por exemplo, “reescalonar sem reduzir o valor principal devido”, estendendo as datas de maturidade das dívidas e reduzindo as taxas de juros da nova dívida a níveis muito inferiores aos do mercado.
Outra solução inovadora sugerida é encorajar os detentores de títulos a trocá-los por outros papéis vinculados ao crescimento do PIB, que ofereceriam pagamentos vinculados ao futuro crescimento. “Com efeito, estes instrumentos transformam os credores em accionistas da economia de um país”, observam. Os títulos dos bancos poderiam também ser reduzidos e convertidos em capital, o que ao mesmo tempo evitaria que o governo tivesse de nacionalizá-los e evitaria a socialização dos prejuízos dos bancos.
“A Europa não se pode dar ao luxo de continuar a jogar dinheiro no problema e a rezar para que o crescimento e o tempo tragam a salvação”, concluem. “Ninguém vai descer dos céus, como um deus ex machina, para resgatar o FMI ou a União Europeia. Os credores e detentores de bónus que emprestaram o dinheiro em primeiro lugar, devem assumir a sua parte dos encargos, para a saúde dos PIIGS, da UE e dos seus próprios resultados financeiros”.