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Rohingyas internados numa ilha do Bangladesh denunciam violações e abusos sexuais

O grupo de cerca de 300 refugiados Rohingya está desde abril proibido de sair das instalações onde foram colocados numa ilha na baía de Bengal, e denunciam violência sexual frequente de que são alvo.
Instalações na ilha de Bhasar Chan funcionam como uma prisão.
Instalações na ilha de Bhasar Chan funcionam como uma prisão. Foto via Rights Corridor / Twitter.

A ilha de Bashan Char, na baía de Bengal, foi o local escolhido pelas autoridades para internar os 300 refugiados que intercetaram num barco quando tentavam fugir do Bangladesh para a Malásia, em abril.

Esta não foi a primeira fuga do grupo, que tinha anteriormente fugido do Myanmar devido à perseguição étnica e genocídio incentivado pelas autoridades do país liderado por Aung San Suu Kyi.

Dirigindo-se primeiro ao território continental do país, estes refugiados foram colocados no campo de Cox’s Bazar, onde estarão a viver pelo menos um milhão de refugiados Rohingya. Muitos tentam sair do campo para a Malásia, de barco.

O grupo denuncia que está a ser forçado a permanecer nas instalações contra a sua vontade, em condições próximas de uma prisão, e sujeitos a abusos sexuais e violações por parte dos guardas das instalações, noticia o Guardian.

Segundo testemunhos recolhidos pelo jornal, são colocados cinco refugiados por cada quarto de 15 metros quadrados. Não têm acesso a água limpa, estando frequentemente cheia de insetos. As doenças sem diagnóstico multiplicam-se devido à ausência de cuidados de saúde.

Ao jornal britânico, uma mulher de 28 anos que deseja permanecer anónima, declara que está a ser obrigada a permanecer na ilha com três filhos de seis, sete e nove anos, contra sua vontade. Como muitos outros, terá pago uma enorme quantia de dinheiro para poder entrar no barco rumo à Malásia, onde está o seu marido.

Segundo o relato, após as autoridades interceptarem o barco onde seguia com os filhos, a polícia garantiu ao grupo de refugiados que seriam colocados na ilha de Bhasan Char por apenas duas semanas.

“Eles mentiram-nos”, diz ao Guardian, chorando. “Sentimo-nos enganados. Não há ninguém que nos possa ajudar”.

A família de outra jovem de 18 anos não tinha dinheiro para lhe pagar a passagem de barco para a Malásia. Por isso, o seu lugar foi pago por um noivo que não conhece. Agora, está internada numa ilha sem contacto com a família ou com o noivo.

Duas mulheres que pediram anonimato devido ao medo de represálias, confirmam a violência sexual infligida pelos guardas das instalações. Uma mulher afirma que conseguiu proteção de guardas femininas durante o dia, mas não tem proteção durante a noite.

Pelo menos dois guardas foram apanhados por homens do grupo depois dos alertas de uma mulher que estava a ser violada, mas o caso não foi registado pelas autoridades.

As autoridades do Bangladesh alegam que as instalações em Bhasan Char têm por objetivo aliviar o campo em Cox’s Bazar. Mas os alertas de várias organizações pelos direitos humanos têm impedido a recolocação em larga escala dos refugiados.

No início de setembro, 40 líderes da comunidade Rohingya foram convidados a visitar a ilha de Bhasan Char para verificarem as instalações. Ao Guardian, dois deles disseram que não apoiaram a recolocação para a ilha em nenhuma circunstância, e confirmaram que foram alvo de ameaças das autoridades do Bangladesh depois de falarem publicamente sobre o assunto.

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