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Ribeira dos Milagres: Poluição e corrupção

“Foram disponibilizados pela UE 44 milhões de euros para a despoluição da Bacia do Rio Lis. Daí nada resultou. Uma parte desse dinheiro desapareceu.” Entrevista com Rui Crespo, porta voz da comissão de defesa da Ribeira dos Milagres (Leiria) e candidato independente do Bloco de Esquerda por Leiria.
Rui Crespo da comissão de defesa da Ribeira dos Milagres

Rui Crespo começa por nos salientar que a questão da Ribeira é sobejamente conhecida pelos piores motivos. São problemas que se arrastam há dezenas de anos, em que têm sido tomadas algumas medidas, mas que se mostraram ineficazes e inoperantes. E realça: "Há por parte da população um sentimento de impunidade. Há muita intranquilidade porque o que está em causa são questões de saúde pública, em que as entidades competentes insistem em não tomar as medidas necessárias: A construção da ETE's (Estação de tratamento de Efluentes Suinícolas)”.

- Quantas são as suiniculturas?

- Mais de 200 na Ribeira dos Milagres. No concelho de Leiria cerca de 400, as que estão registadas.

- E não têm tratamento de efluentes?

- Todas são obrigadas a ter. Mas chamar-lhes estação de tratamento é um nome pomposo, pois na realidade não passa de 3 lagoas de decantação a céu aberto, onde não há nenhum tratamento rigoroso. Existem 2.000 e 2.500 m3/dia para ser tratados, mas são tratados apenas cerca de 300. Todo o restante tem de ser obrigatoriamente lançado nos campos, cursos de água, porque não há outra forma.

- De quem é a responsabilidade de que tudo continue na mesma?

Primeiro, do poder político central – Ministério do Ambiente. Mas quero apontar também aqui o dedo ao poder político local, porque há um esforço muito grande, no sentido de omitir toda esta verdade da Ribeira dos Milagres e da bacia do Rio Lis. Porque há interesses...

- Responsabilidade da Câmara de Leiria?

- Começa nas juntas de freguesia, nomeadamente dos Milagres, de todas as zonas afectadas pelos efeitos nefastos dos efluentes das suiniculturas. E depois obviamente é extensivo à Câmara de Leiria, ao Governo Civil de Leiria e ao Governo, porque são anunciadas muitas medidas mas que na prática não funcionam.

- E porquê?

- Há muita corrupção. E vejamos: foram construídas 2 ETE's, mas ao fim de alguns anos deixaram de funcionar. Investiu-se muito dinheiro. Deveriam ser responsabilizadas as entidades que assumiram a responsabilidade da construção, partindo do princípio que aquilo iria resolver os problemas, mas não resolveu. Depois pôs-se a hipótese da construção da ETE's dos Milagres e vieram os problemas mais graves, isto foi denunciado e nunca foi esclarecido: Foram disponibilizados pela União Europeia 44 milhões de euros para a despoluição da Bacia do Rio Lis. O que é que resultou daí? Nada, rigorosamente nada. Uma parte desse dinheiro pura e simplesmente desapareceu.

- O que é que a comissão propõe?

- Está previsto agora, em 2011, um orçamento de 20 milhões de euros para a construção da nova ETE's, agora eu pergunto assim: então, se tivemos na mão 44 milhões, porque não se aproveitaram? O que é que os responsáveis deste país e os autarcas locais estiveram a fazer sabendo que havia esse dinheiro disponível para tomar medidas que eram fundamentais para a solução do problema. E aí é que começa o mau-estar e começamos a ficar com uma ideia de que tem de haver corrupção a vários níveis. Aquilo que nós propunhamos era uma investigação policial, porque houve enriquecimento de organismos, para não falar de pessoas.

- Uma última pergunta: porque é candidato pelo Bloco?

- Exactamente porque o Bloco tem sido a força política que tem feito ouvir a nossa voz e, como comissão, agarramo-nos a todas as tábuas para nos salvar deste mar conturbado que é a questão da poluição na Ribeira dos Milagres e no Rio Lis.

Entrevista realizada por Carlos Santos para esquerda.net.

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